Postado originalmente na Uol em 24/10/2010
O The Washington Post publicou no dia 10 de outubro o manifesto de 16 superintendentes de educação americanos. Sob o título de “Como consertar nossas escolas” esta casta de administradores desenvolvidos durante as administrações dos Bush, são na verdade “homens de negócio” recrutados na iniciativa privada.
Como era de se esperar, todos os problemas da educação americana se resumem em um só: o professor.
Dizem: “Mas, por onde começar? Com o básico. Como tem enfatizado o Presidente Obama, o fator mais importante que determina o sucesso de nossas crianças não é a cor da pele ou o seu CEP, ou ainda a renda de seus pais – é a qualidade do seus professores.”
Fica claro nesta frase que espera-se que o professor resolva todos os problemas, mesmo os oriundos da posição social da criança. Uma clara concepção de escola como aquela que repara todos os males que a sociedade produz. O capitalismo degrada e a escola conserta garantindo mão de obra diversificada para os negócios.
O restante do manifesto elenca ações para enquadrar os professores nesta lógica: rever regras de aposentadoria, rever as regras de demissão que determina que os professores com menos tempo de serviço sejam os primeiros a serem demitidos em caso de demissão – pois na opinião dos administradores isso provoca a perda de jovens talentos. Amarrar o pagamento dos professores ao desempenho dos alunos. Dar incentivos aos melhores professores.
Uma frase é especialmente importante:
“Deixemos de ignorar os princípios econômicos básicos da lei da oferta e procura e foquemos no como estabelecer uma cultura de impulsionar o desempenho em cada escola americana – uma cultura que premia a excelência (…)”.
Além disso, os administradores querem mais tecnologia educacional e flexibilidade para os estudantes estudarem com estes meios. Dizem: “para fazer esta mudança no trabalho nós devemos também eliminar regras arcanas (…) que requerem que o estudante passe um quantidade específica de tempo na sala de aula com um professor, ao invés de tirar vantagem de lições on line e outros programas.
Finalmente, há que fechar as escolas que não ensinam bem e apoiar ainda mais a criação de escolas charter (sob administração privada).
Como dizem desde os tempos do relatório A Nation at Risk, em 1983, tudo isso é necessário para que os Estados Unidos não
fiquem para trás em relação ao resto do mundo industrializado e tornem o sonho americano mais distante.
Como se vê, não aprenderam nada com sua própria experiência. O impacto de todos estes anos causado por esta ideologia dos negócios na educação pode ser visto nos pífios resultados obtidos pelos estudantes americanos em testes nacionais e internacionais. E já estão nisso há 27 anos…
Veja também comentários de Diane Ravitch sobre o manifesto sob o título de O Manifesto dos Poderosos.