Abaixo, o gráfico mostra um dos resultados do PISA que deveria alertar o país para que tomasse o rumo certo em política de formação de professores, enfatizando uma formação e valorização adequada dos professores. No entanto, no contexto das opções que o país está fazendo em matéria de política educacional, apelando para as teses dos reformadores empresariais, não é isso que devemos esperar.
Fonte: dados da Folha de São Paulo
O dado acima, zero preferência para ser professor por jovens de 15 anos (a pergunta era sobre o que eles queriam ser profissionalmente aos 30 anos), foi produzido pela OCDE. Ele será processado pelo governo com vistas a tomar medidas que agravarão este quadro, ou seja:
- acelerar a desprofissionalização, trazendo para a escola qualquer outro profissional que queira ser professor via “notório saber”.
- implantar formas de preparação do professor aligeiradas de curta duração, com vistas a ampliar rapidamente o quadro de “professores” disponíveis.
- gerar, pelas formas anteriores, uma grande quantidade de profissionais que exercem a profissão como “bico”.
- desqualificar a formação de professores implantando sistemas de aprendizagem on line que sejam “administrados” por professores improvisados como “tutores” nas salas de aula.
- generalizar sistemas de complementação salarial por bônus associados às notas de seus respectivos alunos, a título de “valorizar” o professor.
A fala é que o professor é chave para o sucesso do estudante. Também se diz que é necessário valorizar o professor, mas na linguagem dos reformadores, isso significa pagar bônus e não salários maiores para a categoria.
A fala do governo, centrada no professor como responsável pela qualidade do estudante, prepara sua “responsabilização”, ou seja, a “culpabilização” dos professores pelos resultados do PISA. E a exemplo do que já acontece com outros aspectos da vida social, a justificativa para o governo fazer reformas tem sido pintar “o caos” e em seguida, posar de “salvacionista”.
Leia aqui também.
Prezado Professor Freitas, confesso que estou incomodado com esses dados citados pela Folha, que considero-a pouco confiável em termos de números. Ontem tomei meu tempo buscando nos relatórios disponíveis aqui https://www.oecd.org/pisa/aboutpisa/brazil-pisa.htm e não encontrei estes dados. Além disso, cabe frisar que, segundo o INEP, foram 23.141 participantes. Como a escala adotada pela Folha é de 1 casa decimal, então 0,01% poderia corresponder a, no máximo, 231 alunos. Portanto não seria “nenhum”. Ainda estou buscando mais informações e saber a fonte dessa informação, já que em todos os sites que pesquisei só referenciam a Folha e não documentos oficiais da OECD. Se eu encontrar, postarei aqui. Att
Não é surpresa que há muito tempo não se pensa em ser professor no Brasil, seja por desvalorização profissional, más condições de trabalho e falta de incentivo, tanto dentro do ambiente de trabalho, quanto governamentais. A culpabilidade jogada em cima do profissional da educação, em ser o responsável pelo fracasso do aluno e pelas contradições vividas no dia a dia escolar, que impedem que seu trabalho tenha sucesso e um alcance maior, são fatores que desanimam não só o atual professor, mas também os futuros, e como se pode observar no quadro e na reportagem, verifica-se “zero preferência em ser professor.” (FREITAS, 2016)
No governo e na democracia, vivemos uma situação total de poder, onde a minoria é ouvida e os interesses pessoais estão sendo atendidos. A PEC vem para desmoralizar ainda mais o interesse em ser professor, que como um dos muitos fatores que serão atingidos, que relaciona diretamente com a reportagem será, por exemplo, a meta 17 do PNE que prevê a valorização docente, e que modifica o interesse desses jovens de um dia vir a ser professor.
O que acontece dentro das escolas, (que também são espaços de poder), é a reprodução dos “princípios instituidores da sociedade” (SOUZA, 2009, p.123-140), onde repetem os modelos antigos, contesta-se pouca a construção do novo, formando a educação a favor do autoritarismo, hierarquizando tais poderes. Com pouco diálogo entre coordenadores pedagógicos, diretores e professores, muitas vezes são relatados desânimos, poucas condições de trabalho, falta de tempo para realizar as tarefas que surgem ao longo do dia, e sobrecarga a todos, que é gerado também por falta de professores, ocasionando o que condiz com a reportagem, a desprofissionalização da área e substitutos com notório saber, sucedendo mais conflitos escolares por parte dos profissionais e refletindo diretamente na educação dos alunos.
Portanto, uma área que já está tão defasada e desvalorizada em todos os sentidos, vive realidades de extrema ameaça, onde os papéis estão invertidos. A educação é desenvolvida por meio de golpes e estratégias minuciosas em decorrência de cortes de recursos, que já eram mínimos para uma educação de qualidade e para o desenvolvimento de uma gestão escolar de excelência, que assim, daria o mínimo que um professor necessita para efetuar seu trabalho com dignidade.
Com tantos desfalques, como ser professor se tornará um atrativo para os jovens no dia de hoje? O que vemos, é que além do descaso político, a sociedade começou a perder a esperança na educação do país, e esse reflexo é a diminuição significativa do interesse de embarcar na profissão, buscando-se assim áreas mais valorizadas culturalmente.