Professor: ninguém quer ser…

Abaixo, o gráfico mostra um dos resultados do PISA que deveria alertar o país para que tomasse o rumo certo em política de formação de professores, enfatizando uma formação e valorização adequada dos professores. No entanto, no contexto das opções que o país está fazendo em matéria de política educacional, apelando para as teses dos reformadores empresariais, não é isso que devemos esperar.

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Fonte: dados da Folha de São Paulo

O dado acima, zero preferência para ser professor por jovens de 15 anos (a pergunta era sobre o que eles queriam ser profissionalmente aos 30 anos), foi produzido pela OCDE. Ele será processado pelo governo com vistas a tomar medidas que agravarão este quadro, ou seja:

  1. acelerar a desprofissionalização, trazendo para a escola qualquer outro profissional que queira ser professor via “notório saber”.
  2. implantar formas de preparação do professor aligeiradas de curta duração, com vistas a ampliar rapidamente o quadro de “professores” disponíveis.
  3. gerar, pelas formas anteriores, uma grande quantidade de profissionais que exercem a profissão como “bico”.
  4. desqualificar a formação de professores implantando sistemas de aprendizagem on line que sejam “administrados” por professores improvisados como “tutores” nas salas de aula.
  5. generalizar sistemas de complementação salarial por bônus associados às notas de seus respectivos alunos, a título de “valorizar” o professor.

A fala é que o professor é chave para o sucesso do estudante. Também se diz que é necessário valorizar o professor, mas na linguagem dos reformadores, isso significa pagar bônus e não salários maiores para a categoria.

A fala do governo, centrada no professor como responsável pela qualidade do estudante, prepara sua “responsabilização”, ou seja, a “culpabilização” dos professores pelos resultados do PISA. E a exemplo do que já acontece com outros aspectos da vida social, a justificativa para o governo fazer reformas tem sido pintar “o caos” e em seguida, posar de “salvacionista”.

Leia aqui também.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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2 respostas para Professor: ninguém quer ser…

  1. Jean Gonçalves disse:

    Prezado Professor Freitas, confesso que estou incomodado com esses dados citados pela Folha, que considero-a pouco confiável em termos de números. Ontem tomei meu tempo buscando nos relatórios disponíveis aqui https://www.oecd.org/pisa/aboutpisa/brazil-pisa.htm e não encontrei estes dados. Além disso, cabe frisar que, segundo o INEP, foram 23.141 participantes. Como a escala adotada pela Folha é de 1 casa decimal, então 0,01% poderia corresponder a, no máximo, 231 alunos. Portanto não seria “nenhum”. Ainda estou buscando mais informações e saber a fonte dessa informação, já que em todos os sites que pesquisei só referenciam a Folha e não documentos oficiais da OECD. Se eu encontrar, postarei aqui. Att

  2. Aline Marie disse:

    Não é surpresa que há muito tempo não se pensa em ser professor no Brasil, seja por desvalorização profissional, más condições de trabalho e falta de incentivo, tanto dentro do ambiente de trabalho, quanto governamentais. A culpabilidade jogada em cima do profissional da educação, em ser o responsável pelo fracasso do aluno e pelas contradições vividas no dia a dia escolar, que impedem que seu trabalho tenha sucesso e um alcance maior, são fatores que desanimam não só o atual professor, mas também os futuros, e como se pode observar no quadro e na reportagem, verifica-se “zero preferência em ser professor.” (FREITAS, 2016)
    No governo e na democracia, vivemos uma situação total de poder, onde a minoria é ouvida e os interesses pessoais estão sendo atendidos. A PEC vem para desmoralizar ainda mais o interesse em ser professor, que como um dos muitos fatores que serão atingidos, que relaciona diretamente com a reportagem será, por exemplo, a meta 17 do PNE que prevê a valorização docente, e que modifica o interesse desses jovens de um dia vir a ser professor.
    O que acontece dentro das escolas, (que também são espaços de poder), é a reprodução dos “princípios instituidores da sociedade” (SOUZA, 2009, p.123-140), onde repetem os modelos antigos, contesta-se pouca a construção do novo, formando a educação a favor do autoritarismo, hierarquizando tais poderes. Com pouco diálogo entre coordenadores pedagógicos, diretores e professores, muitas vezes são relatados desânimos, poucas condições de trabalho, falta de tempo para realizar as tarefas que surgem ao longo do dia, e sobrecarga a todos, que é gerado também por falta de professores, ocasionando o que condiz com a reportagem, a desprofissionalização da área e substitutos com notório saber, sucedendo mais conflitos escolares por parte dos profissionais e refletindo diretamente na educação dos alunos.
    Portanto, uma área que já está tão defasada e desvalorizada em todos os sentidos, vive realidades de extrema ameaça, onde os papéis estão invertidos. A educação é desenvolvida por meio de golpes e estratégias minuciosas em decorrência de cortes de recursos, que já eram mínimos para uma educação de qualidade e para o desenvolvimento de uma gestão escolar de excelência, que assim, daria o mínimo que um professor necessita para efetuar seu trabalho com dignidade.
    Com tantos desfalques, como ser professor se tornará um atrativo para os jovens no dia de hoje? O que vemos, é que além do descaso político, a sociedade começou a perder a esperança na educação do país, e esse reflexo é a diminuição significativa do interesse de embarcar na profissão, buscando-se assim áreas mais valorizadas culturalmente.

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