Plataformas “on line”: novos problemas para os pais

O uso de plataformas de aprendizagem on line cresce. Os problemas ligados a elas também. Os pais americanos reagem à intensificação destas plataformas nas escolas que colocam em risco os dados privados e a saúde de seus filhos.

Uma organização chamada Parents Coalition for Student Privacy (Coalisão dos pais pela privacidade dos estudantes) divulga documento no qual examina os riscos de uma destas plataformas conhecidas por Summit Learning. Os riscos podem ser os mesmos com o uso de outras plataformas e deveriam ser levadas a sério pelos pais brasileiros. Diz o documento:

“A Summit é uma cadeia de escolas charter na Califórnia que usa uma plataforma on-line para coletar dados de estudantes e ministrar ensino e avaliações. Desde o ano letivo de 2015-2016, o uso da plataforma Summit Learning expandiu-se para mais de 300 escolas públicas de gestão privada (charters), com financiamento e apoio da Fundação Gates, Facebook, a Fundação do Vale do Silício, e agora a Iniciativa Chan Zuckerberg (CZI), com fins lucrativos de Mark Zuckerberg, a LLC.

As organizações que dão suporte à plataforma gastaram cerca de 200 milhões de dólares em seu desenvolvimento. Pagam professores e administradores para participar de treinamentos e até doam laptops para escolas para incentivar o uso da plataforma.

A partir do próximo outono, a plataforma Summit Learning será administrada por uma nova corporação sem fins lucrativos, chamada T.L.P., para professores, alunos e parceiros, com uma diretoria composta de três membros, presidida por Priscilla Chan, esposa de Mark Zuckerberg.”

Leia a íntegra do documento aqui.

Após esta apresentação, o documento lista os problemas que os pais têm encontrado:

“Em pelo menos 16 estados, os pais recuaram devido ao tempo excessivo de tela que o Summit Learning exige, com alguns alunos relatando que eles estão gastando até três horas por dia em computadores. Os pais também observaram que grande parte do currículo é de baixa qualidade, que seus filhos estão tendo problemas de saúde e ansiedade como resultado, e que eles estão preocupados com a quantidade volumosa de dados pessoais dos alunos fluindo para mãos privadas e corporativas através da plataforma, inclusive para o Facebook e agora CZI, especialmente Zuckerberg que tem sido um infrator reincidente quando se trata de privacidade do consumidor.

Embora a Summit afirme que cada aluno recebe pelo menos dez minutos por semana com um professor “mentor”, muitos dos alunos dizem que não recebem muito tempo individual com seus professores. Os pais têm observado que seus filhos ficaram tão entediados e infelizes que queriam abandonar a escola e, em alguns casos, as famílias transferiram seus filhos para escolas particulares, decidiram educá-los em casa ou sair do distrito.”

Aqui estão algumas perguntas que os pais e alunos devem fazer à escola se estiverem considerando ou se adotarem uma plataforma, segundo o documento:

Onde está a pesquisa independente revisada por pares que indica que a plataforma ajuda os alunos a aprender?

Quantas horas os estudantes gastarão em computadores e quanto feedback eles receberão? Quanta oportunidade os alunos terão para fazer perguntas e participar de discussões em sala de aula e debate?

Foi feita alguma análise para ver se o currículo da plataforma está alinhado com os padrões de aprendizagem, e se sim, onde está essa análise?

O programa foi adotado com o pleno conhecimento e consentimento dos pais, professores e/ou lideranças do município?

A escola tem um contrato escrito e, em caso afirmativo, o contrato cumpre com as leis estaduais e federais de privacidade dos dados dos estudantes?

Os pais poderão desativar as informações do cadastro de seus filhos (nome, endereço de e-mail, etc.) a serem divulgados, e/ou excluir os dados uma vez que tenham sido divulgados, de acordo com as políticas de privacidade da empresa?

Que supervisão está sendo empregada pela escola ou distrito para garantir que os dados dos alunos não sejam violados, da mesma forma que a informação pessoal em sido violada no Facebook?

Leia íntegra do Kit para os pais aqui.

O documento conclui com um conjunto de referências sobre a plataforma Summit de aprendizagem on line. Eis algumas:

Parents rebel against Summit learning platform, Student Privacy Matters, Aug. 31, 2017

Connecticut School District Suspends Use of Summit Learning Platform, Edsurge, Dec 20, 2017

Two Districts Roll Back Summit Personalized Learning Program, Ed Week, Dec. 22, 2017

Zuckerberg and the parent pushback vs Summit schools; Student Privacy Matters, Feb. 2, 2018

What Just Happened to Summit? , Curmudgucation, October 14, 2018

Brooklyn students hold walkout in protest of Facebook-designed online program, NY Post, Nov. 1, 2018

Why parents and students are protesting an online learning program backed by Mark Zuckerberg and Facebook, Washington Post, Dec. 20, 2018

Summit Learning declined to be studied, then cited collaboration with Harvard researchers anyway, Chalkbeat, January 17, 2019

Silicon Valley Came to Kansas Schools. That Started a Rebellion. NY Times, April 21, 2019

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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