A direita brasileira, que apoiou o populismo de Bolsonaro, trabalha agora para isolá-lo e desconectar-se dele. Imagina, para si, um cenário em que defenderá a permanência da sagrada e atual política econômica neoliberal, apenas adicionando em 2022, alguma política de combate à desigualdade social. Tanto o neoliberalismo radical (por exemplo, Dória), como outra espécie que se encontra em construção, o neoliberalismo “progressista” (por exemplo, Huck), querem afastar-se de Bolsonaro e procurar seu lugar ao sol.
Recuperando-se da ressaca prolongada causada pela eleição presidencial de 2018, partidos derrotados miram o centro do espectro político para se reposicionarem até a disputa de 2022. “
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Portanto, vem aí o neoliberalismo “progressista” e quem está na dianteira é o apresentador Luciano Huck. Ele não é filiado a partido, mas tem proximidade com siglas como Cidadania (antigo PPS), DEM, Rede e PSDB. Ele será a versão Obama do neoliberalismo brasileiro.
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Nos Estados Unidos o neoliberalismo dos republicanos – Reagan e Bush – e o neoliberalismo progressista dos democratas – Clinton e Obama – conduziram a Trump, pois não resolveram os problemas fundamentais a que se propuseram (Fraser, 2019). Criaram um exército de desiludidos e marginalizados que engrossaram as fileiras dos conservadores autoritários.
Em relação aos Estados Unidos, para Nancy Fraser (2019):
… “as pessoas estão dizendo que não acreditam mais nas narrativas neoliberais reinantes. Eles não têm fé nos partidos políticos estabelecidos na centro-esquerda ou na centro-direita que as proclamaram. Eles querem tentar algo completamente diferente. Esta é uma crise de hegemonia!” (Posição 398.)
Enquanto nos Estados Unidos o neoliberalismo levou, depois de 4 governos, a Trump, no Brasil, o neoliberalismo já veio associado aos conservadores autoritários de Bolsonaro, aprendiz de Trump. Na verdade, como o neoliberalismo é contra o Estado liberal centrista e não se dá com a democracia, ele acaba favorecendo as teorias políticas autoritárias bem ao gosto dos conservadores. Os neoliberais têm se apoiado nos conservadores para “suspender” a democracia liberal em nome da estabilização dos mercados.
Ocorre que no Brasil, a direita liberal (mesmo os democratas de centro) não têm outra proposta econômica a não ser a do próprio neoliberalismo que já está no governo. Apenas discordam da agenda dos costumes de Bolsonaro e de seu autoritarismo exacerbado. Eles não poderão recusar as políticas neoliberais sob pena de perderem o apoio do “mercado”. Por isso, o que deve emergir com alguma probabilidade de sucesso é um “neoliberalismo progressista” semelhante ao de Obama, que procurará restabelecer uma conexão entre o mercado e algumas políticas públicas de Estado, ou até mesmo apenas continuar recitando que é a favor o Estado de Direito.
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E a centro esquerda? De modo geral, estão todos em busca do centro. Quem já ocupava este espaço, procurará mantê-lo. Pode emergir disso um neoliberalismo de “esquerda”.
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Se Fraser está certa, tal como nos Estados Unidos, estes neoliberalismos disfarçados estão fadados ao fracasso por aqui. Se a política econômica da direita liberal continuará sendo a do ajuste neoliberal, então não haverá como financiar a inclusão através de políticas públicas de Estado e além do que, a situação geral de precarização do trabalho vai aprofundar-se, pois a crise do capitalismo não dá sinais de arrefecer.
O grave é que esta impossibilidade de sucesso do neoliberalismo – se não de imediato, a médio prazo no Brasil -, pode nos levar de volta às políticas autoritárias e conservadoras de futuros “bolsonaros” ainda mais populistas e autoritários, já que o cordão dos insatisfeitos deve continuar aumentando.
Cresceu de 48% para 53% o “porcentual de brasileiros que desencantados com a política e com os políticos, defendem a atuação de um líder “forte” disposto a quebrar regras” e o mais importante, note-se, é que acham que isso é preciso para “retirar o pais do controle dos ricos e dos poderosos”.
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Se a esquerda quer investir numa agenda de futuro e não simplesmente voltar ao poder para fazer o mesmo que já fez (trazendo de volta uma situação parecida com 2015 mais adiante), ela deveria pensar a médio prazo.
As políticas neoliberais, hoje, se converteram no “abraço do afogado”. A esquerda precisa colocar-se como “mudança” do status quo e não como defensora deste, olhando para trás. Depois de 40 anos destas políticas, o neoliberalismo é, hoje, o próprio problema e não a solução e voltar ao centrismo só continuará a alimentar o exército de insatisfeitos que demandam soluções. Eles precisam ser esclarecidos sobre a profunda crise do capitalismo, fonte da sua situação social, para pensarmos opções históricas.