Fraudes estão ficando evidentes

Redes de ensino, na corrida pelo melhor IDEB, estão pressionando seus professores a deixarem de dar o conteúdo de outras disciplinas que não sejam português e matemática e usar o tempo para fazer recuperação ou treinar seus estudantes em simulados de português e matemática. A ordem é direta, em alguns casos, dada por coordenadores pedagógicos aos professores.

Em uma delas, a nota que o aluno tira em português e matemática vale também para as demais disciplinas omitidas, e é simplesmente repetida. A fraude mereceria apuração pelo Ministério Público pelo grave dano ao direito de aprender das crianças e mostra como as políticas dos reformadores empresariais que, em tese, são propostas para garantir tal direito, terminam por roubá-lo quando implementadas nas escolas.

Alunos e professores são ranqueados e festas comemoram os vitoriosos. Empresas de consultoria orientam estas redes.

É a maior evidência relatada do chamado estreitamento curricular produzido pelo uso intensivo de exames. Um verdadeiro vale tudo. O IDEB das redes, em alguns casos, é alto às custas da formação das crianças nas demais disciplinas.

Os professores precisam se organizar para fazer a denúncia destas situações. A dificuldade em algumas delas é que os professores são contratados pela CLT, não têm estabilidade e podem facilmente ser demitidos se discordarem das medidas, não as implementarem ou até mesmo se as denunciarem. 

Esta é uma das razões pelas quais os professores têm que ter estabilidade no emprego. E é por isso também que os reformadores empresariais não gostam da estabilidade.

 

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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3 respostas para Fraudes estão ficando evidentes

  1. Handerson Fábio disse:

    Os simulados antes das avaliações externas são uma realidade na rede estadual do RJ.

    Por aqui existe a obrigatoriedade de ter no mínimo três avaliações bimestrais e cada uma ter sua respectiva recuperação.
    Além disso, a avaliação externa tem que ser uma das avaliações bimestrais. Se for contar o número de aulas gastas com avaliações e recuperações, não sobra mt para as aulas efetivamente.

    Por me recusar a aplicar tal avaliação externa e por dar valor zero a ela, surgiu uma ordem da secretaria de educação para que eu fosse retirado imediatamente das turmas de ensino médio, o que não aconteceu por causa da mobilização dos alunos e pela atuação do SEPE/RJ.

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