BNCC: Callegari deixa presidência de Comissão

Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação e presidente da Comissão Bicameral deste Conselho que analisa a Base Nacional Comum Curricular para o ensino médio, divulga carta em que explica as razões pelas quais deixa a presidência da Comissão.

Leia íntegra aqui.

“Como se pode constatar no documento preparado pelo MEC, com exceção de língua portuguesa e matemática (que são importantes, mas não as únicas), na sua BNCC desaparece a menção às demais disciplinas cujos conteúdos passam a ficar diluídos no que se chama de áreas do conhecimento. Sem que fique minimamente claro o que deve ser garantido nessas áreas.”

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“O atual governo diz que o “novo ensino médio” já teria sido aprovado pela maioria dos jovens. Não é verdade. Nenhuma mudança chegou às escolas e talvez para a maioria elas nunca cheguem. Alardeia a oferta de um leque de opções para serem escolhidas pelos estudantes, mas na sua BNCC não indica absolutamente nada sobre o que esses “itinerários formativos” devem assegurar.”

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“A nova Lei abre o ensino médio para que ele seja oferecido a distância. Nesse simulacro de educação, pacotes EAD poderão substituir professores e dispensar laboratórios e bibliotecas. Pior: poderão desintegrar o território de encontros, afetos e descobertas coletivas constituído pela escola, seus estudantes e seus profissionais. Isso é muito grave! Não será isolado atrás de uma tela de computador que o jovem brasileiro vai desenvolver valores como liberdade, solidariedade, respeito à diversidade, trabalho colaborativo, o apreço à democracia à justiça e à paz. Na escola se aprende muitas coisas que não estão nos livros: estão nas relações presencias entre os estudantes e deles com seus professores e a comunidade.

As novas tecnologias estão aí, mas elas devem ser utilizadas a favor da escola e não em substituição a ela. A escola precisa ser protegida e valorizada, não ameaçada. Na minha visão, a não ser em casos excepcionais já regulamentados, a participação da modalidade a distância na oferta do ensino médio não deve ser admitida, como, aliás, já orientam as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para essa etapa.

Destaco esses problemas para não discorrer sobre outros, como, por exemplo, o dispositivo da Lei que permite que recursos públicos da escola pública passem a ser compartilhados por instituições privadas; ou a possibilidade de que profissionais práticos com notório saber e não licenciados possam ministrar aulas na educação básica.”

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“No que concerne à Lei nº 13405 [reforma do ensino médio] propriamente dita, penso que ela deva ser revogada. E, a partir disso, em novas bases sociais, políticas e administrativas advindas das eleições de outubro, iniciar um amplo debate nacional com participação ativa deste CNE.

Quanto à proposta de BNCC elaborada pelo MEC, proponho que ela seja rejeitada e devolvida à origem. Seus problemas são insanáveis no âmbito do CNE. Ela precisa ser refeita.

Quanto aos trabalhos do CNE e, particularmente, os da Comissão Bicameral da BNCC, proponho uma imediata revisão da estratégia de estudos e debates, com a suspensão do ciclo de audiências públicas e a organização de uma ampla agenda de diálogos em profundidade com os diferentes setores da educação nacional. Mais do que nunca, o CNE deve assumir seu papel de Órgão de Estado, guardião dos interesses educacionais da Nação e protetor da Educação contra os males das descontinuidades e dos oportunismos.”

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“Ao defender essas posições e essas propostas perante o nosso colegiado e perante a sociedade, entendo não ser mais adequada a minha permanência à frente da Comissão Bicameral da BNCC. A presidência de um colegiado exige um esforço de imparcialidade que já não posso oferecer.”

Leia a íntegra aqui.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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26 respostas para BNCC: Callegari deixa presidência de Comissão

  1. JORGE RABELLO MENDES disse:

    Excelente pocisionamento! Não se pode ser cúmplice daquilo com o que não concordamos.Parabéns pela coragem.

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  3. ROGERIO FERNANDO DE GOES disse:

    Posição clara, fundamentada, firme e corajosa de Cesar Callegari. Sempre inspirador ver decisões como essa.

  4. Cristina disse:

    Querem afundar o Brasil, tirando o direito do povo ao conhecimento em sua integralidade.! Acorda gente! Proteste!

  5. Edna Teotonia disse:

    Medíocre. Desigual .Claro que o ensino particular não ficara só nisso. Retrocesso. Essa BNCC PRODUZIRA profissionais de baixa formação. Outra vez quem tiver dinheiro fará complementação a sua formação escolar.

  6. Marlus Toledo disse:

    Para o Governo, uma população sem alicerce na educação é a continuidade da desigualdade social, baixo intelectuo para exigir seus direitos, além da permanência de impunidade, corrupção e descumprimentos das leis.
    Que país incrédulo e vergonhoso!!!!🇧🇷

  7. Gonçalina Romana disse:

    Se tivesse mas pessoas com essa posição,o ensino básico não estaria do jeito que esse governo quer enfiar goela abaixo.

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  9. Perfeito, coerente professor. Desde 2012 que eles vêem com ameaças..Agora que estão com a caneta não vão perder a oportunidade. Triste. ” E agora,José? E agora escola?

  10. EDSON DE SOUZA ALMEIDA disse:

    Callegari percebeu o erro a tempo, no entanto, já trabalha no projeto do Sesi (leia-se, Fiesp) há alguns anos. Na faculdade Sesi criaram as “licenciaturas” polivalentes por áreas do conhecimento, ele sabia onde isso ia dar. Agora, tardiamente, tomou uma decisão importante. Bem vindo de volta às trincheiras da luta por uma educação pública de qualidade…

  11. Noemi dos Santos Larroque disse:

    Apoio sua tomada de posição.A convivência nas escolas é fundamental para o desenvolvimento do aluno,mas não como as escolas estão e nossos professores produtos de uma preparação inadequada.Precisamos ter foco nas disciplinas que são necessárias para o aluno alavancar outros conhecimentos que vam somar em sua vida ,sem impor uma ideologia ultrapassada de lavagem cerebral e domínio do povo.Essas mudanças de currículo não levam a nada são para usar politicamente,o que vale mesmo é a aprendizagem em sala de aula,com o objetivo de ensinar e aprender.A avaliação não deve ser punitiva,pois avalia o aluno é o trabalho do professor,para ser retomada as falhas.Deveria ser dado mais chance de o aluno buscar a nota melhor,pois assim estaria aprendendo,que é o objetivo da escola.Estimular e buscar o aluno atendendo suas dificuldades,sejam cognitivas ou emocionais.Mas não ,teimam em ensinar o que não tem relevância e não conseguem focar na aprendizagem necessária pois não dá tempo.Muito importante e necessária seria a artes e Educação Física nas escolas,cantadas,teatro,coral,pinturas e além de jogos desenvolver o atletismo e artes marciais,mas envolvendo e estimulando todos os alunos para o que se sentem conectados.O Inglês ou outra língua deveriam ser como alfabetização , como os bons cursinhos e não dando um conteúdo que não se aprende nada.Os livros que vão para as escolas são porcarias,tudo conchavos políticos.Isso tudo mudando teríamos uma boa educação.

    • Zethe disse:

      Tem que mudar os conteúdos repetitivos dos livros fazendo com que o aluno se dê conta da realidade, com fatos atuais sem deixar de mesclar com fatos passados os quais foram originados!
      Quanto ao ensino médio seria louvável que voltasse a ser como antigamente, preparando os alunos para o mercado de trabalho, (Ensino Técnico).

  12. Patricia disse:

    Jesus….o último que passar, que feche a porta!!!!

  13. Qto a reforma do Ensino Médio e a BNCC nunca li nada mais plausível e animador: REVOGAR e REJEITAR!
    Esse TREM descarrilhado tem q seguir outro itinerário.
    Quem sabe ñ seja o seio de seus PROGENITORES

  14. Sandra Tarso disse:

    O governo esta colocndo
    de lado os professores. Parece que estamos voltando a um estado de ditadura.

    • DULCINÉA MACHADO LIRA disse:

      Ditadura do CAPITALIO SELVAGEM, DO NEOLIBERALISMO, a cujos protagonistas, não interessa direito de pensar do povo. Querem uma boiada ferrada, manipulada, sem qualquer capacidade de reflexão, de dissernimento, de reinvidicação

  15. Maria disse:

    Um absurdo

  16. Vicente disse:

    100% contigo, Sr. Professor Cesar Callegari.
    Alguns intelectuais políticos querem transformar uma educação profissional, e que necessita de muito conteúdo e prática laboratorial para ser aprendida, em opções de escolhas, como se Física, por exemplo, pudesse ser ensinada em 02 ou nenhuma aula para certo aluno, que prefere Humanas, mas sem pensar que este mesmo aluno, quando se tornar admimistrador e CEO de uma empresa de Energia, se escolheu não estudar Física no EM, não saberá nem de onde é originada a Energia que Ele administrará ….., a meu ver, após 25 anos de academia e experiência na educação e mestrado em engenharia biomédica, NADA PODE SER DESPREZADO OU SER OPÇÃO DE ESCOLHA NA FORMAÇÃO ESTUDANTIL E HUMANA!

    No Ensino Fundamental, todas as disciplinas deveriam ser apresentadas ao aluno, ao estudante, na forma de conteúdo, de prática laboratorial e visitando empresas e seus profissionais vindo nas escolas, e vice-versa.

    No Ensino Médio, de certo a meu ver deveria ser em PERÍODOINTEGRAL, das 8-16h, o aluno também deveria ter todas as disciplinas, mas de forma teórica num período do dia, prática no outro, visita a empresas e entrevistas com aprendizado de profissionais de cada área noutro dia, espaço Maker todos os dias por 2 aulas, e aulas dadas por nativos em inglês, em disciplina a escolha do aluno, como prática aplicativa da mesma.

    Governos nas 3 esferas, Indústria, Empresas e Microempresas, Escolas, Institutos de Pesquisa, de Fomentos, Museus, todos em parceria na instrução e Investimentos, verdadeiras PPP.

    Parabéns, sr. Callegari!
    O Brasil precisa crescer, precisa parar de fingir que educa porque pública que todos os jovens estão nas escolas, pelo menos na escola básica, ……, mas estão todos realmente aprendendo?
    Todos os alunos brasileiros estão mesmo aprendendo a ser profissionais dedicados e competentes no que fazem? E éticos? Com a lição de casa que boa parte dos políticos estão lhes dando, tipo caso “lava-jato”, onde só se fala na mídia em corrupção?

    Estudar não é brincadeira, não se deve aprender apenas o que se quer, o que se escolhe, o que lhe dá prazer! Deve-se aprender o máximo de tudo o que for possível, para somente após este conhecimento, aí sim, ESCOLHER a melhor opção de seu futuro e vida.

    Escolher no 1° ano do EM o que vai estudar ou aprender? Futuro incerto, imaturidade em jogo, adolescência que hoje pode chegar até aos 30 anos…., produção e retorno do investimento escolar neste jovem apenas após seus 30 anos de idade…., Brasil continuará estagnado, sem produção e consequentemente sem equiparação aos países em desenvolvimento, atrás do comboio evolutivo.

    Não desejos isto, pelo menos EU e o Sr. Callegari. Além da Copa 2018, pensando no país economicamente em 2028.

  17. NORMA disse:

    Hoje estou aposentada. Mas fui professora 25 anos mas sempre alerta a nova educação. Nao consegui tirar a escola de mim.Triste para meus netos que terão um país de analfabetos politicamente falando! Sempre lutei pela educação. Fiz minha parte por este país. Agora vou fechar os olhos. Nao tenho como lutar com estes políticos. Vou ensinar para os netos e Sá outras crianças só Deus para olhar por elas. Muito triste. Muito decepcionada. Os ricos, os artistas é que estão certos. Estão indo embora onde seus filhos terão um ensino de qualidade e não convivem com a violência que assola este país.

  18. MariA Inês Alves Barreto disse:

    Essa nova modalidade ensino só desvaloriza o professor e o próprio aluno acabando de uma vez com os vínculos afetivos com a comunidade escolar.

  19. Isabella Gaze disse:

    Por que aceitou participar desta farsa? Era presidente da Comissão encarregada de destruir o ensino médio no Brasil e só descobriu isso agora? Sinceramente…

  20. Célia Monteiro Rocha disse:

    Parabéns pela atitude o Brasil precisa de mais pessoas assim!!

  21. Aurinete Marinho Moura disse:

    Para o governo uma população sem conhecimento para reivindicar direitos e melhor. Por isso que não podemos se acomoda diante do que esta acontecendo.

  22. Precisamos denunciar essa farsa que é a Reforma Curricular do Ensino Médio.A BNCC servirá apenas para aumentar as desigualdades sociais e privilegiar a elite,pois quem tem o poder econômico vai investir na melhor educação.Como falar em Educação Básica com investimentos congelados por 20 anos.Ora,fala sério Temer e sua base aliada?

  23. Maria silva disse:

    É devastador o descaso com a educação. A educação é o saber o contato humano é a convivência… A melhor saída é ñ ser conivente com a destruição de uma nação. Parabéns!

  24. Franklin Teixeira disse:

    Acredito no que foi colocado pelo Conselheiro e entendo que tem que ser revisto a BNCC tendo em cista que nao acobteceram audiências ouvindo os profissionais da educacao de todas as areas de estudo, que com certeza teriam propostas e justificativas que clareasse a real base para o ensino medio. E mais estas diretrizes também nao contemplam a educação a distância, onde o aluno ,mesmo com mais maturidade aina não está preparado para esta metodologia, mas é a unica saída para uma demanda infinita criada por políticas que nao contemplam e discriminan a Educação de Jovens e Adultos, em todo País.

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