Postado originalmente na Uol em 26/03/2012
Maria Alice Setubal ocupa hoje a página três da folha com o artigo “Os melhores professores para as piores escolas”. Raro é o posicionamento da autora entre a rede de fundações privadas no Brasil. Usualmente, tais fundações estão inseridas em esquemas de perpetuação de má política educacional (no sentido de política sem evidência empírica consistente) e de defesa ideológica das teses de mercado para a área educacional. Corajosa, Maria Alice afirma uma posição mais independente. Diz:
“O Sistema de bônus cria competição danosa e afasta bons professores dos alunos ruins; a educação não é como o mercado, em que a concorrência pode ser saudável.”
Isto é política pública calcada em evidência empírica. Basta consultarmos a literatura (em especial o estado da arte neste campo produzido pela National Academy of Science dos EUA) e vamos encontrar inúmeras ressalvas à utilização disto que está se tornando panaceia no Brasil: tratar o professor como vendedor de carros, ganhando comissão por aluno que ensina (bônus). Como já demonstrou o CENPEC em outro estudo, em áreas metropolitanas, a instituição destas políticas de pressão sobre a escola termina produzindo alterações no território que abriga um determinado conjunto de escolas, com possibilidade de aumento da segregação e discriminação negativa na aprendizagem.
Está certa a presidenta dos Conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, da Fundação Tide Setubal – para ela, “precisamos de mais cooperação e menos competição. Precisamos ter a ousadia para inverter a relação meritocracia-competição para meritocracia-colaboração.”
Pode-se discordar de outros aspectos abordados pela autora, mas a concordância neste ponto não é pouco em uma conjuntura onde a fala de educadores profissionais é desqualificada em favor de falas rápidas e receitas improvisadas que pregam soluções muito mais alinhadas com interesses empresariais ideológicos ou de faturamento.