A formação de professores no Brasil é uma bomba relógio que ninguém quer desarmar. Há mais de 20 anos vem sendo armada. Não é surpresa para ninguém. Mais um estudo, agora, mostra o tamanho do descaso com a área, o qual se mede em décadas: 40% dos professores do ensino médio no país estarão em condições de se aposentar em seis anos. E não pensam em prolongar sua estadia na escola. Junte-se a isso a queda nas matrículas dos cursos de formação nas Universidades e se terá o quadro completo do desastre.
“Um relatório inédito feito pelo Ministério da Educação mostra que, ao longo dos próximos seis anos, 40% dos cerca de 507 mil professores do ensino médio brasileiro atingirão as condições de idade ou tempo de contribuição para se aposentar, revela Renata Mariz. Responsável pelo estudo, o secretário de Educação Superior, Jesualdo Pereira Farias, diz que o governo deve se preocupar com a previsão. O quadro é agravado pela diminuição no número de formandos nos cursos de licenciatura em disciplinas da educação básica: segundo o Censo do MEC, houve uma queda de 16% entre 2010 e 2012.”
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Enquanto isso, as políticas de responsabilização avançam pressionando os professores nas salas de aula, ameaçando com a retirada de benefícios, encobrindo maus salários com oferta de pagamento por bônus (achando que isso é valorizar a profissão), ameaçando com demissão se os alunos não aprendem, condicionando salários a resultados de alunos em testes, terceirização da gestão para organizações sociais que pagam pior ainda que o estado, ensino por protocolos, tratando os sindicatos como inimigos e adotando a terceirização para quebrá-los, entre outras medidas.
O que se vê nos Estados Unidos, país mestre na aplicação destas medidas, é uma queda na procura pela profissão, produto destas políticas lá vivenciadas em escala. São atalhos ilusórios.
Uma solução também fracassada foi liberar a formação de professores e controlar por certificação. Ou seja, desregula-se a formação profissional e controla-se por exames que certificam a competência para ensinar. O caso mais conhecido nos Estados Unidos é o da Teach for America que forma professores em seis semanas. No entanto, isso conseguiu colocar no mercado uma quantidade de professores irrelevante para o conjunto das necessidades e além disso, a rotatividade aumentou.
Portanto, o quadro é bem mais grave, pois as soluções que estão à vista para resolver o problema, são mais gasolina na fogueira.
Sou professor iniciante a cinco meses e já pretendo parar e fazer outra faculdade.
Isso irá piorar a cada ano que passa, no Brasil a profissão de professor virou profissão de desgosto.
Sou professor universitário há três anos, gosto muito de estudar, aprender e ensinar, além de trocar experiências de vida e conhecimento com os acadêmicos. Logo, seria esperado que a docência fosse algo em que gostasse muito, entretanto, o que vivencio não é isso. O professor atualmente vive sob constante pressão, como se a responsabilidade pelo aprendizado do acadêmico fosse exclusivamente dele. Além disso, esse profissional está mergulhado em um sistema burocrático e muito pouco produtivo, no qual não há valorização profissional, nem incentivo para sua formação nem seus estudos em meio à sua profissão. Dentro de tal realidade, fico ainda surpreso com aqueles que decidem enfrentar tal situação e admiro quem persiste. Eu, por exemplo, vou fazer o possível para deixar esse barco.
Uma vez esvaziada a oferta de professores pelas vias que temos, temo que isso vire desculpa para outra leva de “soluções” emergenciais.