Ciclo de privatização está só começando

Leitor alerta que o Jornal Valor Econômico divulga hoje notícia de que a Consultoria Falconi criou uma nova unidade de negócio específica para cuidar da área da educação: a Falconi Educação.

“Consultoria focada em gestão e resultados, a Falconi criou uma divisão voltada para a área da educação pública e privada. É a primeira vez que a Falconi – responsável pela reestruturação de companhias como Ambev e Lojas Americanas – tem um braço dedicado a um setor. A aposta é baseada na crença de que as escolas públicas, onde estão matriculados 80% dos alunos do ensino fundamental, precisam passar por um choque de gestão e preferencialmente sob a liderança da iniciativa privada.”

Quem vai dirigir a nova unidade? Advinhe. O ex-secretário de Educação do Rio de Janeiro, Wilson Risolia que aplicou, quando no governo, as teses dos reformadores empresariais. Segundo o novo contratado da Falconi:

“A gestão nas escolas públicas é um caminho sem volta. O Brasil é um dos últimos colocados no Pisa. Já fizemos um diagnóstico dos 27 Estados e levamos aos governadores. Também estamos conversando com fundações e universidades particulares”, disse Wilson Risolia, ex-secretário de Educação do Rio de Janeiro e responsável pela Falconi Educação.”

A nova unidade foi lançada recentemente e em seu evento de lançamento economistas e acadêmicos, segundo o Jornal, defenderam a “privatização” da gestão das escolas públicas por meio de PPPs – Parcerias Público-Privadas.

Como a Falconi está dentro da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, este estado deve ser um dos 27 visitados que aceitou o convite, o que você acha?

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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10 respostas para Ciclo de privatização está só começando

  1. Mônica disse:

    Tive curiosidade de assistir ao vídeo que completa a reportagem do jornal. Me assustou o fato do dono da consultoria que quer melhorar a qualidade da educação, dizer que é preciso “ensinar a diretora a estabelecer metas, montá seus plano de ação …” (sic).
    Se a situação já não fosse muito preocupante, eu já estaria só com esse começo.

  2. italoagra disse:

    A consultoria do Falconi se chamava de Instituto do desenvolvimento gerencial (INDG) e a metodologia deles foi implantada no início do primeiro governo Campos em Pernambuco. Eles determinavam uma árvore com índicadores, e sinais em verde, amarelo e vermelho. Entre os indicadores tinha um sobre gravidez na adolescência. Se duas alunas engravidassem o indicador ficava no vermelho.. o que é de uma gritante ignorância acerca do fenômeno educativo e do contexto escolar. Os gestores não entendiam aquela tecnocracia e ficavam loucos por ter que responder por fatores que escapam em muito da alçada dos profissionais da escola. É como se os fatores socioeconomicos fossem fatores de produção, controláveis, mensuráveis…. resultado? foi um retumbante fracasso… em pouco tempo a metodologia do INDG foi substituída pelo Gestão nota 10 do Instituto Ayrton Senna, que também fracassou, e foi substituído pelo Pacto pela Educação de Pernambuco (PPE) que ainda está por se provar. Desenvolvi essa análise na minha dissertação de mestrado. De fato, o que o professor afirma em seus artigos que estão fazendo experimentos de política educacional que não tem sustentação empírica e não se comprovaram efetivos em pesquisas nacionais nem internacionais. Estão tratando milhões de alunos e milhares de profissionais de pernambuco como ratos de laboratório. Quando dá algo errado, eles trocam de método, para manter os mesmos princípios, à revelia das consequências negativas, custe o que custar.

  3. Alexandre César Azevedo. disse:

    Acredito ser um absurdo a privatização da educação. Sou PROFESSOR FEDERAL e jamais aceitarei essa situação.

  4. Fabio disse:

    Caderno especial da Folha sobre educação, colocado na editoria “mercado”, reporta o “sucesso” das fundações privadas – Unibanco, Itaú, Lemann, Vale – na gestão das escolas públicas http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1704922-fundacoes-investem-na-formacao-de-gestores-de-escolas-publicas.shtml

  5. Adriana Teixeira Reis disse:

    Prezados colegas.
    O jornal Folha de São Paulo publicou ontem (11/11) matéria sobre srº Ricardo Paes de Barros (graduado em engenharia eletrônica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com mestrado em estatística pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e doutorado em Economia pela Universidade de Chicago. Possui pós-doutorado pelo Centro de Pesquisa em Economia da Universidade de Chicago e pelo Centro de Crescimento Econômico da Universidade de Yale) com o título “Educação está desmoralizada no país, diz ‘pesquisador’ em evento do setor”. Fiquei mais uma vez (não consigo me acostumar) indignada com a prepotência de certos cidadãos que simplesmente acham que tratar a escola como uma empresa será a salvação do Brasil. Reproduzo o final da notícia com minhas observações entre parênteses: “A ideia da Falconi Educação é aplicar ao setor (educação) conceitos como gestão para resultados (produção), gestão financeira (racionalização financeira), desenvolvimento de programas de formação em educação (treinamento), estruturação de programas de incentivos (atendimento de metas), construção e revisão de marcos legais (interferir na legislação nacional).”
    Tudo isso embasado na institucionalização de um Laboratório denominado EduLab, do Instituto Ayrton Senna. Dá um pouco de medo ao ler sobre esse laboratório, mas vale a pena para entender de onde e do que eles estão falando… Tipo “Admirável Mundo Novo”.

  6. Giuseppe La Barbera disse:

    Essa grande mentira do mercado que seria mais eficiente que o estado ainda tem muitos adeptos apesar das desmentidas da realidade. Só precisa eliminar o patrimonialismo no estado, ampliar o controle social por meio de informação pública, ampla, transparente, obrigatória do uso do dinheiro púbblico, O dono do dinheiro público é o cidadão que paga o imposto, ou seja, todos nos. E o imposto deve ser progressivo. O rumo do progresso só se pode dar nesse caminho. O estado é – em setores quais educação, saude, cultura, justiça, meio ambiente – o único que pode ser eficiente. Nesses setores o privado só cuida do lucro e pouco se importa com as finalidades da sociedade e da nação. A escola pública só precisa da dignidade e da autonomia dos coletivos docentes, E recursos adequados. O verdadeiro alto custo para o pais é não ter uma boa escola pública.

    • Douglas disse:

      E as faculdades americanas??? São eficientes??? Pelo amor de Deus não da pra entender como diante da catástrofe que é a gestão publica no Brasil alguém ainda pense assim. Obviamente deve ser funcionário público ou ter parentes na área.

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