Exames criam uma tradição ligada a suas edições anteriores que são estudadas minuciosamente pelos cursinhos preparatórios e pelas próprias escolas ansiosas por verem mais alunos aprovados nos exames.
Com isso, o mundo todo que passa por esta onda de avaliações censitárias classificatórias sabe que os estudantes são treinados em certas estratégias mecânicas de responder às questões, tomando por base o que caiu em exames passados.
Matéria sobre a redação no ENEM aborda estas estratégias.
“Para o professor Cunha, é preciso questionar o modelo de redação proposto no Enem, que é `quase uma receita de bolo a ser seguida`. Segundo ele, isso faz com que os alunos acabem refletindo menos, o que levaria a um preparo mais `mecânico`.
Eduardo Calbucci, professor do curso Anglo, afirma que `o texto não pode ser uma colagem de partes feitas por outras pessoas`, mas defende: `o aluno inevitavelmente vai (fazer o exame) com uma estrutura mais ou menos pensada, porque senão seria impossível fazer a redação em quarenta minutos, uma hora. Não é receita de bolo, é apenas um ponto de partida`.
Para Gabriela, o problema vem de uma estrutura ainda maior. `Você tem corretores que estão fazendo uma correção mecânica porque precisam de dinheiro e, ao mesmo tempo, um aluno que está em uma sociedade com poucas vagas universitárias e quer se livrar dessa desgraça que é prestar vestibular`, afirma.”
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O que medem então os testes? Já passou da hora do pensamento oficial das agências examinadoras ter a honestidade de reconhecer os limites dos testes ao invés de endeusa-los como se fossem indicador certo do desenvolvimento dos estudantes. Já passou da hora dos pais também se preocuparem com isto e iniciarem um movimento para colocar um basta nesta onda de medição para ranquear.
Lembremos aqui de Levin, economista americano:
“Na realidade, as relações entre os resultados medidos em testes e os ganhos de produtividade são modestas e explicam uma parcela relativamente pequena da maior ligação entre nível educacional e os resultados econômicos. O que é omitido em tais avaliações estreitas são os efeitos que a educação tem sobre o desenvolvimento das capacidades e habilidades interpessoais e intrapessoais e que afetam a qualidade e a produtividade da força de trabalho.”
Ou seja, exatamente o que não é medido pelos testes termina por ser o mais importante para alavancar a produtividade.
Prezado Prof. Freitas. Esta questão dos testes é bastante complexa e exige profundas reflexões, tanto na elaboração quanto na interpretação dos resultados. No caso do ENEM é nítido que é um exame de desempenho classificatório e, neste contexto, ranquear é a principal meta. Sobre a questão da redação eu não vejo como novidade as reflexões levantadas pelo artigo mencionado no uol, uma vez que o uso de técnicas de memorização (“macetes”) em redações é de antigo conhecimento, e se aplica a qualquer vestibular, infelizmente. Sempre houve um amplo interesse dos cursos pré-vestibulares em explorarem as “falhas” dos exames, apropriando-se de técnicas e métodos para que o estudante obtenha êxito, com o risco deste ter um baixo conhecimento (por exemplo). Sendo realista, a maior parte dos pais querem que seus filhos simplesmente ingressem na universidade e, se para isso for necessária a “aprendizagem” de “macetes” em redações e na resolução dos itens, os pais irão aprovar. De fato, estes exames (aqui incluo os de avaliação de sistema educacional) não medem o desenvolvimento do estudante, mas apenas (parte) do produto deste desenvolvimento, sendo insuficientes para diversas conclusões. Mas, infelizmente, são utilizados como indicadores únicos do desenvolvimento. Sinceramente, dada a dimensão do ENEM, não acho que o uso de “macetes” irá diminuir, independentemente da melhoria do exame. O ideal (quase que utópico, infelizmente) é investir mais em Educação (tanto na infraestrutura quanto na atratividade da carreira docente, incluindo melhores salários) e, quem sabe futuramente, o currículo do estudante será suficiente para o ingresso na universidade. Ou, em um mundo ideal, ter vagas no ensino superior para todos. Att
Esta é a questão. Os problemas com os testes são antigos e estão bem descritos na literatura científica, mas os órgãos governamentais e a midia lidam com eles como se fossem ciência exata….
Acredito que os testes devam ter um valor mais apropriado e de mais peso em avaliações de orientação e regulação do que certificatória. O processo avaliativo certificatório na função seletiva e classificatória é uma questão importante que não pode ser abandonada, porém deve levar em consideração e assumir a sua natureza complexa, remetendo a desafios de incorporação sobre as informações formativas e do progresso dentro do processo de aprendizagem dos indivíduos, ou seja, assumir um concepção avaliativa mais rica do ponto de vista das competências desenvolvidas, pois as competências científicas disciplinares “medidas” nesses testes são apenas fios em um emaranhado, com isso devem extrapolar o domínio cognitivo e a capacidade de resolver problemas.
O que mede um exames? O que o aluno sabe? Será mesmo? Vejamos então um exemplo concreto para que se entenda melhor.
Há mais de 25 anos, um meu irmão aprovado com altíssimas notas no 12º a Biologia, Matemática e Química, viu o seu percurso académico arruinado com um resultado num exame nacional (Português, 11º ano ) que o reprovou e o fez perder o 12º ano (então, o 12º ano era anulado ao aluno que, tendo deixado alguma disciplina de 11º ano por concluir, não aprovasse num prazo de dois anos!). Ora, numa primeira época, esse meu irmão “sacou” uma nota inferior à exigida para aprovar (10 valores) e como tal, reprovou! Foi obrigado a abandonar o secundário pois teve de cumprir o serviço militar: não o poderia adiar pois havia reprovado! Depois de regressar do serviço militar (e sem estudar pivete!) aprovou, dois anos depois, num mesmo exame de 11º ano a Português aprovou com 13 valores… A pergunta óbvia é:
Que mede afinal o exame? O que o aluno sabe ou, antes, em que medida o exame corresponde ao que o aluno sabe/não sabe? Pesquisem e leiam “Que medem os exames?” em Que medem os exames?