OCDE! Até tu?!

Dinheiro para a educação é menos relevante apenas quando se atingiu um certo patamar de investimentos. O Brasil gasta em média 38 mil dólares por aluno (corrigida a disparidade pelo custo de vida entre países) e incrementos de investimentos de até 80 mil dólares afetam a qualidade dos jovens.

A opinião é do Diretor Educacional da OCDE, Andreas Schleicher, em entrevista para a Folha de São Paulo. Segundo ele, o investimento que o Brasil faz em educação, além de ineficiente, é baixo: “ainda que, como parcela do PIB per capita, o gasto brasileiro por estudante seja maior do que a média da OCDE, esse ainda não é o nível ideal”. Na verdade, o Diretor da OCDE foi delicado ao dizer “nível ideal”: nosso investimento em educação está em um dos níveis mais baixos, como ele mesmo admitirá mais ao final da entrevista.

Penso que esta entrevista deveria, se fatos impressionassem os reformadores empresariais, por fim à fala descontextualizada de que não é preciso mais dinheiro para melhorar a educação brasileira e sim apenas gasto mais eficiente. Note-se que se ouve esta fala até no Congresso Nacional. As duas coisas são necessárias, portanto, vamos parar com esta fala ideológica cuja destinação é asfixiar a educação de forma a lança-la na crise que justificará sua privatização.

E por falar em crise, o Diretor Educacional da OCDE, apresenta uma visão que contraria a que o Ministério da Educação do Brasil vem querendo impor, ideologicamente, ao fazer “diagnósticos” sobre a educação brasileira, ou seja, a ideia de que a educação no Brasil herdada pelo golpe é um completo caos. Temos problemas sim, como outros países também têm, mas a visão apocalíptica do Ministério é mais um factoide político. Diz Andreas:

“Ainda vejo o Brasil como uma das poucas histórias de sucesso na América Latina, e eu acho que o copo está mais para metade cheio do que para metade vazio. Entre 2003 e 2015, o Brasil adicionou 500 mil alunos, ao reduzir as barreiras que mantinham uma grande proporção de adolescentes fora das escolas.”

Andreas explica que ao incorporar mais alunos de populações excluídas e que entram no sistema com um rendimento inferior aos demais, isso leva a que a amostra do PISA incorpore também estes novos estudantes, o que produz uma subestimação das melhoras reais ocorridas no sistema educacional brasileiro. Digamos que é o preço da inclusão.

Seria muito mais fácil continuar excluindo estas populações para manter somente os que detêm notas altas na amostragem e produzir índices mais favoráveis.

Logo no início da entrevista, Andreas afirma que “pobreza não é destino”, e cita que os alunos de 15 anos entre os 10% mais pobres do Vietnã têm ido tão bem no Pisa quanto os 10% mais ricos no Brasil. Esta afirmação está correta: pobreza não é destino. Mas não pode ser retirada do contexto: há uma série de outras recomendações feitas para que a pobreza não se torne destino.

Primeiro, Andreas alerta que as experiências de um país não são facilmente transplantáveis para outros. Segundo, o Diretor afirma que, na rota do sucesso dos países, está o reconhecimento de que os professores desempenham um papel muito importante tanto quanto as condições que lhe são oferecidas:

“A relação extraordinariamente alta entre o número de alunos por professor em países ibero-americanos, como o Brasil, revela as condições de trabalho desafiadoras que muitos países enfrentam. Com classes cheias, o tempo que os professores podem dedicar a preparar lições e apoiar os alunos individualmente é severamente limitado. Nos sistemas educacionais bem sucedidos, as salas de aula podem ser relativamente grandes, mas o número de estudantes por professor é baixo, liberando tempo para a preparação de aulas e outras tarefas ligadas à escola.”

Vamos parar, portanto, com esta conversa de que o tamanho das turmas não conta. Vamos parar de fechar turmas e engordar o número de alunos que os professores têm que ensinar. Vamos parar de falar que “em média” as turmas estão dentro da legislação. Vamos parar que fechar turmas para reduzir a contratação de professores.

Mas não é só isso, o Diretor alerta também que é preciso promover políticas de aperfeiçoamento da qualidade do magistério, especialmente na formação inicial, e note-se, na progressão na carreira e na remuneração – o que exige que se atinja pelo menos o patamar crítico em gasto em educação, algo que não temos no Brasil, pois temos “o nível mais baixo de investimento”. No entanto, nossas autoridades se divertem colocando a culpa em governos anteriores, nas escolas e nos professores – enquanto realizam a maior contenção de gastos já vista, para atender os interesses de banqueiros e investidores externos.

Postos nesta perspectiva, temos uma concordância com o Diretor em relação ao diagnóstico. Mas, é claro, quanto às soluções a serem utilizadas para atender a estes requisitos, estaremos em lados opostos.

O que Andreas diz, não representa nenhuma novidade pelo menos para os que estão profissionalmente no campo da educação. Mas é importante, pois no atual governo, entidades e profissionais da educação não são considerados interlocutores válidos, enquanto que a OCDE sim – infelizmente.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
Esse post foi publicado em Mendonça no Ministério, Responsabilização/accountability e marcado , . Guardar link permanente.

Uma resposta para OCDE! Até tu?!

  1. Cecilia Goulart disse:

    Até a OCDE!

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