40% do Ensino médio à distância: golpe fatal

Finalmente aparecem, aos poucos, as verdadeiras razões que estão na base da pressão pela rápida reforma do ensino médio. O CNE – Conselho Nacional de Educação – quer liberar até 40% da carga didática do ensino médio (de qualquer disciplina) para o ensino à distância.

Leia aqui.

A medida deverá promover a segregação escolar de forma mais nítida, criando escolas on line de baixo custo (e de baixa qualidade) para os mais pobres e mantendo a escola regular cada vez mais para as classes mais bem posicionadas financeiramente (principalmente aquelas em que os filhos não precisem trabalhar para sobreviver). De quebra, irá deslocar, com o tempo, o financiamento da educação para a iniciativa privada retirando recursos da escola pública e sua expansão. É questão de tempo o aparecimento dos vouchers (algo como uma bolsa) para estudantes em escolas on line privadas.

A discussão vai vir embalada em “introdução de inovações tecnológicas” na educação. O fato é que o mercado já vinha se preparando para entrar neste campo. Recentemente foram feitas alterações que visavam viabilizar este passo, (veja aqui e  aqui  também), principalmente a liberação de polos de educação à distância no ensino superior. Grandes corporações podem agora ampliar o mercado. Outras virão.

Vale lembrar que nada disso conta com apoio de evidência empírica como mostra Nelson Pretto na própria reportagem da Folha citada acima. Sendo pessoa conhecedora do campo da tecnologia na educação, é uma opinião importante:

“Fica claro um movimento de desresponsabilização do Estado brasileiro com a formação crítica e sólida da juventude, e também com a infraestrutura escolar”, diz.

A privatização da educação tende a dar um salto com o incentivo ao aparecimento da escolas charters on line que prestarão serviços de educação à distância. Não é sem razão que o relator da medida no CNE é do SENAI. As recentes modificações introduzidas pelo governo na composição do próprio CNE, mudando seus conselheiros, viabiliza esta discussão. Vale lembrar que este caminho foi seguido pelos americanos e, hoje, as escolas charters on line americanas estão entre as que estão com piores desempenhos nos relatórios avaliativos (veja aqui e aqui).

Veja aqui desmentido do Governo Temer.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
Esse post foi publicado em Assuntos gerais, Escolas Charters, Mendonça no Ministério, Privatização, Segregação/exclusão e marcado , , , , . Guardar link permanente.

4 respostas para 40% do Ensino médio à distância: golpe fatal

  1. André Martins disse:

    Meu filho estuda em um escola de tempo integral de SP. Antes da mudança os professores mais críticos alertavam que a mudança iria criar alunos de segunda classe. Dito e feito, quem ficou no ensino integral conseguiu melhorias, quem foi deslocado para as escolas comuns enfrenta salas ainda mais superlotadas, falta de professores e estrutura ainda mais precária.
    O interessante é que as escolas de ensino integral contam com professores com dedicação exclusiva, maior carga horária, refeição de melhor qualidade, laboratórios simples. As melhores escolas (do sistema S) contam ainda com estrutura de ótima qualidade, bons laboratórios e excelente quadras de esportes. Isso quer dizer que todo mundo sabe como fazer direito, a precarização é um projeto.

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