O MEC e a Reforma do Ensino Médio

Por Luciano Mendes

Muitas pessoas que estiveram na linha de frente na luta contra a bandidagem que tomou conta do país a partir do Golpe de 2016, sobretudo no campo da educação, têm utilizado de eufemismos para denunciar a postura do MEC no que concerne à desastrosa e criminosa Reforma do Ensino Média que está em vias de ser aprovada no Congresso Nacional. Falam da displicência, leniência, falta de ação… do Ministro da Educação na defesa dos interesses da juventude pobre, trabalhadora, negra e periférica do país face aos interesses dos empresários da educação, verdadeiros lobos travestidos de cordeiros.

No entanto, se considerarmos um período mais alargado de tempo, veremos que não se trata de nada disso, mas de um verdadeiro conluio do Ministro com os interesses empresariais da educação, neste momento representado, pelo Mendonça Filho.

Vejamos: parte importante do MEC é ocupada hoje por pessoas que representam os interesses daqueles que apoiaram o Golpe de 2016; que estiveram com o Temer; que só não indicaram o Ministro da Educação do Bolsonaro porque a bancada evangélica achou que o MEC deveria ser entregue aos pastores empresários da fé e não ao empresariado da FIESP et caterva. Não bastasse isso, se se observa os encontros dos prepostos de Lula na preparação do Programa de Governo na área de educação vai notar que não foi com o campo democrático e que lutou contra o Temer e o Inelegível que eles se encontraram preferencialmente. Mas foi sobretudo na montagem do Grupo de Trabalho da transição na área de educação que, definitivamente, escancarou o que vínhamos denunciando: a absoluta ascendência do empresariado na definição da pauta de educação do novo governo. Conforme escrevi aqui, na “educação ganhamos, mas não levamos”.

Governo de coalizão é governo em disputa, já dizíamos no ano passado, pelo que fui duramente criticado (não era hora de explicitar divisões, diziam os colegas; era preciso esperar o governo começar….). De lá para cá, ganhamos algumas coisas, algumas posições e perdemos muitas outras. Mas, no caso da Reforma do Ensino Médio não podemos compactuar com o conluio do MEC – ou de parte dele, claro – com o crime que se quer praticar. Neste sentido, as atuações da CNTE e do FNE têm sido exemplares tanto na denúncia quanto na indicação de caminhos outros que deveríamos seguir.

Não custa lembrar, a este respeito, que foram justamente as/os sindicalistas da educação básica que foram solenemente esquecidos na montagem do primeiro GT de transição da educação. Lá, conforme falamos à época, já se anunciavam as duras lutas que travaríamos nos meses e antes seguintes! Por isso, esperar uma postura mais aguerrida ou combativa das pessoas que ocupam, hoje, as posições mais proeminentes do MEC em defesa dos interesses da maioria da população é quase como pedir para o tamanduá defender os interesses das formigas.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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