A paciência com o MEC está acabando

Depois de um período em que as lideranças da área da educação tentaram testar se era possível construir com o MEC um caminho progressista, pelo menos, a paciência parece estar acabando.

As dificuldades deste caminho estavam claras olhando-se para a adesão prévia do ministro à política educacional do Ceará, uma política claramente marcada pela presença de fundações e pela adesão às teses da reforma empresarial da educação. Escrevi sobre isso aqui e aqui.

Alguns estão esperançosos na próxima reforma ministerial e uma possível troca de ministro, mas embora isso possa ser um começo, a dificuldade é bem maior já que o MEC foi formatado com esta política e envolveria a troca de toda a linha de comando do órgão, envolvendo a Secretaria Executiva, Presidência do INEP, Diretores de Secretarias – ou seja – envolveria um recomeço. Apertar a tecla RESET, não deve estar nos planos de Lula.

O jornalista Luís Nassif entrevistou nesta terça-feira (19), o professor Daniel Cara, da USP, sobre a influência da Fundação Lemann no MEC. Assista aqui.

A análise feita alí está correta, mas limita-se à reforma do ensino médio sob a influência da Lemann, mas há ainda o Todos pela Educação. Na verdade, é toda política do MEC: projeto educacional do Ceará; Bases Nacionais Curriculares e de Formação e também a reforma do Ensino Médio e sua tramitação no Congresso; concepção de Alfabetização (também liderada pela ONG Associação Bem-Comum de Veveu do PT, em articulação com a Fundação Leman); Bolsa Escola para permanência no ensino médio; conceito de educação em tempo integral (e não de formação integral) que precisam ser modificados.

Se a área da educação continuar acreditando em “negociação” com o ministro, não há chance. A ação do MEC é complementada pela ação feita por estas mesmas organizações empresariais no Congresso. Possuem estratégias de longa duração e operam camufladas – sempre que podem. Por exemplo: o insuspeito Bolsa Escola destinado à permanência dos pobres no ensino médio, pode virar no futuro, política de voucher para o estudante escolher a escola, esvaziando a escola pública, primeiro argumentando que é só para os mais pobres e, depois, generalizando para todos (como ocorre hoje nos Estados Unidos onde esta política já atingiu seu grau de maturação).

No fundo, esta política do Bolsa permanência segue a máxima dos neoliberais: não dê dinheiro para o sistema educacional, mas apenas diretamente para o aluno, pois para os neoliberais é fundamental enfraquecer o sistema público – a médio e longo prazo. Isso induz à privatização. No caso, serão 5 ou 6 bilhões ao ano que serão destinados aos estudantes para treiná-los inclusive a serem “empreendedores” e não à melhoria do sistema público que acolherá as próximas gerações.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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13 respostas para A paciência com o MEC está acabando

  1. Maria da Graça Brasil Rocha disse:

    Análise mais que perfeita.

    • Arcione Ferreira Viagi disse:

      Minha experiência como professor e por ter atuado na diretoria de ações educacionais do FNDE, me deram base para afirmar que o sistema educacional tem problemas estruturais que não serão resolvidos com mais dinheiro. O problema começa pela destruição da formação de professores, equivocadamente dominada pelos pedagogos.
      Hoje o número de estudantes que optam pela profissão de professor é mínimo e devido as vantagens são levados a cursar Pedagogia, porém a maioria não tem formação básica adequada e o curso foca nas técnicas de “como ensinar” e a fase mais importante para desenvolver o interesse pelo aprendizado, ou seja, os anos iniciais da educação fundamental fica dependente de professores mal formados e escravos de livros didáticos.
      O tema é complexo e poucos estão dispostos a enfrenta o corporativismo e realmente mudar a realidade.
      Tem muito dinheiro e poder envolvido.

  2. Maria Valdete Leite disse:

    Talvez essa análise seja frustrada diante da força dos acontecimentos futuros. A política nacional flui em ondas que vão e vêm. Sempre haverá uma grande força contrária ao sistema predominante que o impedirá de concluir essa sanha fatal. A selvageria capitalista acaba sendo detida por atos que a impedem de se estabelecer plenamente e assim seguimos fragmentados, mas também fragmentando e frustrando o sistema. Nada é ou será pleno e parece mesmo que estamos fadados ao imprevisível. Boas festas!

  3. Jean Piton disse:

    Excelente análise.

    • Mariene do Nascimento Natal disse:

      Aposentei-me em 2021. Foram 27 anos convivendo com a farsa, o menosprezo e o sucateamento das políticas públicas para a Educação.

  4. ASEVEDO QUIRINO DE SOUSA disse:

    Análise totalmente equivocada, quem conhece os avanços da educação no Ceará sabe disso!

    • Prezado, é educação se avalia, ao final, pelas finalidades educativas que ensina e não apenas por estatísticas. Abraço.

    • MARCELO FERRAZ RIBEIRO disse:

      Exatamente, educação de cunho privatista e o que é pior, pautada somente em instrumentos de analise de resultados de desempenho dos alunos por organizações criadas para esse fim que mais desviam dinheiro público das escolas e nada propõe de mudanças em infreestrutura das escolas para que se melhore o trabalho dos professores, nada oferecem para a formação e aperfeiçoamento dos professores. Só se preocupam com dados de desempenho dos estudantes para denegrir a escola pública e terem argumentos para privatizar.

  5. Jorge Pittan disse:

    A nossa educação nunca terá uma condução séria enquanto for dominada por ONGs ou grupos que estão mais interessados na grana que no desenvolvimento educacional do país. Infelizmente, não temos a educação como uma política de Estado, mas de governos, por isso que a cada 4 anos muda a partir de interesses partidários. Além disso, aos invés de se buscar o protagonismo dos professores que conhecem a realidade das escolas, as políticas são comandadas por “especialistas em educação” que pensam sobre ela dentro de salas bonitinhas e não do chão da sala de aula. Fora isso, ainda temos todo o processo de desvalorização em todos os aspectos da carreira do professor, além de um corporativismo que defende péssimos profissionais. A situação é desesperadora e enquanto isso a educação pública vai para o ralo…

  6. André Carvalho disse:

    Não poderia ter escolhido ministro pior, e ao que parece Lula ainda dá crédito para esse comerciante da educação, fora Camilo.

  7. José Fabio disse:

    Sem essa de alguém ou qualquer Instituição influencie o MEC.
    Tende em prezar pela formação cidadã e prática na educação.
    O estudante com espírito critico para servir a humanidade.
    A educação como ferramenta de civilização para aperfeiçoamento do espírito humano.

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