Governo Doria e os “professores de excelência”

O governo Doria anuncia planos para a educação. Entre estes, está o de ter “professores de excelência”, pois eles “podem fazer uma grande diferença na trajetória de aprendizagem de cada estudante”. Os estudos de “evidência empírica”, escolhidos a dedo e sem levar em conta o contraditório na pesquisa, estão baseados em “Chetty, Friedman, Rockoff, 2014; Rivkin et al 2005; Rockoff, 2004”, anunciam.

Leia aqui.

Os autores citados estudam o impacto que eles supõem que um professor bem formado tenha sobre o futuro dos estudantes e são defensores do pagamento por “valor agregado”, ou seja, por este método uma porcentagem do pagamento do professor fica condicionada aos resultados dos testes de proficiência aplicados aos seus estudantes.

Nada contra a ideia de ter professores de excelência, mas as soluções propostas pelos autores são sofríveis e se enquadram na mesma lógica da reforma empresarial da educação: responsabilização unilateral dos agentes e reducionismo do fenômeno educativo à sala de aula.

Não se pode deduzir do texto (um powerpoint sobre os planos), que a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo queira implantar pagamento por valor agregado. Precisaremos analisar melhor os próximos passos. No entanto, pagamento de bônus por mérito ela já usa há muito tempo – aliás sem resultados como ocorre em outras partes do mundo que também copiaram a ideia. Portanto, o passo seguinte pode muito bem ser pagamento diferenciado de professores por valor agregado. Daí o recurso a estes autores. Veremos.

Como mostrei em outro post, nos Estados Unidos, Obama implementou o “pagamento de professores por valor agregado” (elogiando um estudo desta mesma equipe de pesquisadores na qual a Secretaria está se apoiando, feito em 2011) e induziu a peso de ouro a adesão dos estados à sua implementação. Uma década depois (2021), outro estudo mostra que os efeitos sobre o desempenho dos estudantes foram praticamente nulos.

Leia aqui.

Devemos lembrar que, por aqui, o FUNDEB já fez parte da tarefa ao condicionar o repasse de uma parte da cota ICMS do Estado aos resultados de avaliação das escolas nas redes de ensino.

E assim vamos. Ao mesmo tempo que a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo copia estudos americanos para simular alguma evidência para suas ideias, na matriz geradora destas ideias milagrosas, os Estados Unidos, divulga-se que tais previsões fornecidas por estes estudos não levaram a uma melhoria da educação.

Com isso, medidas que realmente poderiam fazer diferença na sala de aula como a redução do número de alunos por turma, não são implementadas.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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