Concepção de educação de telemarketing

Postado originalmente na Uol em 22/06/2011

À medida que a economia se expande e vai absorvendo a juventude mais ilustrada, postos inferiores vão ficando disponíveis para jovens mais pobres. O que se paga nestes postos e irrisório e à medida que não haja uma base que permita às indústrias terem uma seleção mais ampla, os salários tendem a subir com a falta de jovens com preparação mínima para tais postos inferiores.

Este é o dilema dos empresários, em todos os ramos. Por isso a grita geral por mais educação para todos.

Não se trata de nenhum desejo de tais jovens se preparem com uma concepção de educação ampla, de cidadão, etc. Trata-se de “business”.

As empresas de telemarketing e de centrais de relacionamento com o cliente, segundo a Folha de S Paulo (22-06-2011) acabam de entregar um documento ao chefe de gabinete da Presidenta Dilma, o Sr. Giles Azevedo, reivindicando melhorias no setor da educação básica. A proposta é criar parceria de empresas com o governo para melhorar a educação básica dos jovens.

O documento foi assinado pelo Sintelmark (sindicato paulista das empresas de telemarketing) e pela Abrarec (associação das relações empresa-cliente). Segundo a Folha publica, “o telemarketing é o primeiro emprego dos jovens, e eles estão ingressando no mercado sem conhecer bem o português e a aritmética, diz Stan Braz, diretor-executivo das duas instituições. Pelo projeto, as empresas intensificariam cursos de educação básica e de qualificação profissional e, em contrapartida, o governo desoneraria a folha de pagamento do setor, segundo Braz.”

Três observações: 1. Entregar a educação básica para empresas é entregar nossos jovens aos interesses formativos dos empresários para os quais português e aritmética são suficientes como formação para a juventude que frequenta a educação básica. Dando para atender clientes nas empresas de telemarketing, está bom. 2. Nota-se bem o nível de influência junto à Presidenta. É lá que está a brecha. Eles não foram ao Ministério da Educação. Vão ao Chefe de Gabinete da Presidenta. E esta é só uma das entidades – há outras pressionando por soluções deste tipo. 3. Qualquer recuo na economia, que sinalize para as empresas excesso de mão de obra e falta de demanda de serviços, muda o comportamento destas empresas em relação a seu interesse pela educação, e torna seu envolvimento algo inconsistente. Daí porque educação seja tarefa de Estado e não de empresários de olho no lucro.

Seria muito interessante se pudéssemos dar uma lida no documento entregue. Certamente encontraremos lá o que se pode resumir como uma “concepção de educação de telemarketing”.

Avatar de Desconhecido

About Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
Esta entrada foi publicada em Assuntos gerais, Postagens antigas da UOL. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário