Postado originalmente na Uol em 13/06/2011
Sequestrada pela área de negócios, um grupo de mais de 140 economistas querem sua ciência de volta. Eles lançaram uma organização internacional que “promete liberar a ciência econômica de dogmas e submetê-la à realidade. Já conta , em menos de um mês, com mais de 3.500 lintegrantes.
A Associação Internacional de Economia foi motivada, segundo seus fundadores, pelo “embaraço” criado pelo fracasso de economistas em posições de liderança de alertarem para a iminência do colapso financeiro de 2007/2008. O manifesto de fundação promete “pluralidade e abertura”, em oposição ao que é visto como a prevalência de um grupo pequeno que vem se revezando entre cargos acadêmicos, governos, bancos e instituições internacionais.
Para o brasileiro Luiz Fernando de Paula, “embora alguns resistam, o uso da matemática como um fim em si e a crença em mercados autorreguladores, acabaram. É importante recuperar a dimensão da economia como ciência social”. Para o britânico Peter Radford, “foi um processo marcado pela proximidade entre bancos e governos. Houve gente que deixou os bancos para se tornar regulador e depois voltou. No fim todos pensam igual e não há supervisão nem controle.”
A lição aprendida a duras penas pela Economia, precisa ser rapidamente assimilada pela Educação. Aqui, em nossa área, está sendo criada uma permissividade entre políticos, empresários da educação e acadêmicos que, pensando o mesmo, trocam de posições criando uma espécie de pensamento único, regado a OCDE, Mckinsey e Banco Mundial – presentes hoje em Estados brasileiros com poder de definição da política educacional, sem contar a nascente indústria educacional (Airton Sena, Alfa e Beto, Avalia e outras) muitas mascaradas de Fundações, Institutos e ONGs.
A Universidade precisa rapidamente dominar as tecnologias que estão sendo usadas no campo da medição e suas aplicações derivadas da matemática e da estatística com o objetivo de recoloca-las no interior da Educação como ferramentas de pesquisa e não de controle, e impedir que elas sejam sequestradas, como estão sendo, como objeto de faturamento da indústria educacional. Precisa ainda submetê-la a uma crítica para alertar, como hoje fazem muito acadêmicos americanos, para os limites de sua aplicação, impedindo que os “homens de negócio” associados aos “políticos imediatistas” aprisionem estas tecnologias segundo interesses estreitos. Vendedores não podem admitir publicamente restrições nas mercadorias que vendem.
Ou a Educação faz isso ou teremos também o nosso apagão, como a Economia teve.
(Sobre a nova organização da Economia ver Folha de São Paulo de 11-06-2011, Mundo 2, p. 9 a qual serviu de base para este comentário.)