Das terceirizadas aos vouchers: a rota da destruição

Diane Ravitch resume o caminho da destruição da escola pública americana em post recente, ao comentar artigo de Jeff Bryant. O processo de privatização começa com a terceirização e depois avança para a consolidação dos vouchers.

“Jeff Bryant escreve no Progressive sobre o orçamento de Trump-DeVos e seu plano para eliminar o programa federal de escolas terceirizadas (charters), que enfureceu o setor. A indústria da terceirização estava certa de que eles tinham uma amiga em Betsy DeVos [Secretária de Educação de Trump], como agora ela poderia abandoná-los?

Bryant cita-me dizendo que as fundações e grupos de influência de extrema direita adotaram as charters há trinta anos porque eram mais fáceis de se vender ao público do que os vouchers. Eu estive envolvida em três diferentes grupos de influência conservadores – a Fundação/Instituto Thomas B. Fordham, o Instituto Manhattan e a Força-Tarefa Koret da Hoover Institution. Encontrei-me com os líderes do movimento de vouchers e de terceirizadas. As terceirizadas eram mais fáceis de se vender porque podiam ser “chamadas” de escolas públicas, mesmo quando estavam sob administração privada. E, é claro, a indústria das terceirizadas aprovou legislação favorável estado após estado, auto-rotulando-se de “escolas públicas terceirizadas”, quando seria mais preciso dizer que são escolas de administração privada com contrato com o governo.

As terceirizadas foram adotadas pela direita, porque não queriam correr o risco de perder disputas judiciais usando a estratégia dos vouchers (na época). No final dos anos 80 e início dos anos 90, quando o setor de terceirizadas começou, os tribunais nunca aprovaram um esquema completo de vouchers (os tribunais aprovaram vouchers para Cleveland e Milwaukee, mas esses pareciam ser casos especiais, já que eram para “salvar” crianças negras e pobres das “escolas que fracassavam”. Agora, sabemos que os vouchers não funcionaram em Cleveland e Milwaukee, mas isso não diminuiu o zelo dos defensores dos vouchers nem um pouquinho.

A partir das discussões que ouvi nos círculos de direita, a invocação de “salvar crianças negras e pobres” era uma manobra de propaganda destinada a ganhar o apoio dos legisladores liberais. Era uma farsa e era uma farsa conhecida. E muitos liberais caíram nessa.”

Bryant resume bem a questão:

“Tão certo que Trump mentiu durante seu discurso no Estado da União sobre como salvar o destino educacional de uma jovem afro-americana na Filadélfia, isso tem um significado muito mais profundo: o establishment político, conservador e liberal, tem nos enganado sobre os objetivos da escolha da escola – vouchers e terceirizadas – o tempo todo. Sempre se tratou de transformar a educação em uma empresa privada.”

A proposta de reorientar o financiamento das terceirizadas americanas pode parecer estranha, mas ela é uma decisão que se explica pelo compromisso assumido por Trump em apoiar a ampliação do financiamento por vouchers.

As terceirizadas (charters) são um meio de se destruir a “escola pública de gestão pública” e criar mercado (com recursos públicos). Uma vez criado, os vouchers ganham prioridade. Os recursos garantidos às terceirizadas por contrato, terão agora que ser disputados no mercado de vouchers e passam a depender da escolha dos pais, que são os portadores dos vouchers.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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