Pais, defendam seus filhos

O governo de São Paulo vai enviar apostilas para a casa dos estudantes e disponibilizar aulas que poderão ser assistidas pelo celular ou TV. Segundo a secretaria, “os pais receberão também uma carta com orientações sobre a organização de rotinas de estudo e como podem auxiliar as crianças nas tarefas.”

Leia aqui.

Os pais vão ser chamados a atuar como professores improvisados em suas casas e a controlar seus filhos para que assistam as aulas via celular ou TV – no meio das preocupações com a pandemia e seus impactos. Já falei sobre isso aqui.

Admite-se que se possa fazer isso como ação emergencial, mas os pais não deveriam assumir esta responsabilidade sem que o governo estadual concordasse com o cancelamento das avaliações bimestrais e anuais – inclusive o SARESP. Note-se que as aulas pela TV continuarão sendo contadas como dias letivos e o conhecimento veiculado por elas poderá, portanto, ser exigido futuramente em avaliações. E não sabemos exatamente a duração das ondas de pandemia.

Caso não se suspendam as avaliações, os pais devem sair em defesa de seus filhos. O deslocamento do ensino para a TV e para a casa poderá aumentar a defasagem educacional daqueles cujas condições de vida não sejam favoráveis a este tipo de organização da aprendizagem ou que sejam mais duramente atingidos em sua situação familiar pela pandemia.

A maneira de se protegerem é exigir o cancelamento dos exames em 2020 e exigir a junção dos anos 2020 e 21 em um ciclo único de forma que os professores possam retomar profissionalmente o ensino com os estudantes em sala e estabelecer uma equalização de desempenhos num prazo de dois anos.

Sem suspender as avaliações e ciclar 20/21 os pais estarão sendo coniventes com a ampliação da defasagem educacional de seus próprios filhos. Ao não exigirem tais medidas, os pais podem estar – ao contrário do pensam – selando o destino dos filhos, pois estarão contribuindo para criar uma defasagem de aprendizagem geracional, que estes carregarão para o resto da vida.

Os governos insistem em tratar o atual momento, que é grave, de maneira simplória e não estão dando a ele a real dimensão de gravidade também para o campo educacional. A questão, muito bem explicada pelo Ministro da Saúde, não é apenas o ataque do vírus à saúde, mas o ataque deste vírus a todos os aspectos da sociedade – e isto inclui a preparação da juventude nas escolas. Se aceitarmos uma solução improvisada para a educação, estaremos condenando toda uma geração de jovens.

Os governos estão jogando para as famílias e para os professores o custo educacional da pandemia e livrando-se do problema de forma burocrática. Esta solução resolve o problema do Estado, mas não das crianças e da família.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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5 respostas para Pais, defendam seus filhos

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  2. Arlene Roberty Leite disse:

    Sei da dificuldade que nos,família passamos.Peco uma reflexão sobre o fato de homens e mulheres participarem da cadeia produtiva.Criancas ,muitas ficam com pessoas várias para que país possam trabalhar fora.Muitos profissionais não podem estar em casa para ajudar nas aulas a distância.Escola particular necessita das mensalidades para manter corpo docente.O que não aceitarei é que crianças entre 7 a 10 anos sejam reprovados por não assistiremtais aulas.Contratos entre família e escola não são feitos para aulas a distância.Escola e família devem optar por uma flexibilização.

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