UNESCO: protocolos de saúde não bastam

O blog NORRAG traz contribuição de Stefania Giannini, Subdiretora Geral de Educação da UNESCO e ex-Ministra da Educação, Universidades e Pesquisa da República Italiana. A autora aponta que, “embora muitos sistemas escolares estejam planejando como retornar ao ensino presencial, apenas voltar para a sala de aula não é suficiente.” Ela aponta outras três prioridades críticas que “incluem matricular novamente todas as crianças, recuperar o aprendizado perdido e construir resistência para um futuro incerto.”

Embora discorde de algumas soluções apontadas pela autora, é importante atentar para as quatro áreas indicadas por ela: condições sanitárias da volta; recuperação dos alunos que se evadam da escola; recuperação da aprendizagem perdida durante a pandemia; e atenção aos impactos emocionais, físicos e econômicos trazidos pelo Covid19.

Infelizmente, as autoridades têm se preocupado mais em criar as condições sanitárias para colocar apressadamente os estudantes de volta nas escolas. Porém, como ela indica, há mais aspectos a serem planejados. Para ela: “estamos vendo que a pandemia da saúde e a recessão econômica estão agora acompanhadas por uma terceira tragédia – a aprendizagem perdida que tem um alto custo pessoal e social.”

Há em curso uma “catástrofe geracional” que exigirá medidas ousadas para evitar que a atual geração em idade escolar arraste as consequências educacionais da pandemia por toda a vida. Isso exige planejamento e recursos em um ambiente de recessão e de “teto de gastos”. Estamos mais preocupados com a recuperação de empresas do que com a recuperação de uma geração de estudantes.

Ter apenas uma logística de proteção à saúde envolvendo reduzir número de alunos em sala de aula para manter distanciamento social, é importante mas é apenas o começo. Como ela afirma: “trazer os alunos de volta à sala de aula é apenas o primeiro passo para garantir uma educação equitativa de qualidade. “

Após o furacão Katrina, 12% a 20% dos alunos abandonaram a escola ou estavam matriculados de forma intermitente. Além disso, em outros fenômenos naturais que agrediram comunidades verifica-se que, por exemplo no Paquistão, bastaram três meses sem aula para causar defasagens que puderam ser sentidas até quatro anos depois da tragédia.

Portanto, as redes de ensino necessitam ter um plano completo (e recursos) para as quatro áreas impactadas pela pandemia e estar com estas ações viabilizadas para quando se puder retornar às aulas. Neste processo, “relações fortes entre alunos e professores serão fundamentais em todas as três etapas” conclui a autora.

O negacionismo e a pressa para colocar as crianças de volta na escola, mesmo com as advertências todas da área médica, estão ofuscando as demais medidas. Por exemplo, é para construir tais relações fortes entre alunos e suas escolas que deveríamos estar, preferencialmente, fazendo uso do ensino remoto e não para atormentar os pais com lição de casa e avaliação de desempenho das crianças.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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Uma resposta para UNESCO: protocolos de saúde não bastam

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