USA: para onde vai o Brasil?

“As escolas públicas [americanas] estão em meio a uma guerra pelo seu controle – e até mesmo a própria instituição da educação pública está em perigo. Há uma espécie de assalto na forma de pinça em andamento, com bilionários na extrema direita empurrando para a completa desregulamentação, e outros, como a Fundação Gates, procurando o controle sistêmico de cima para baixo de todas as escolas públicas do país.

No lado “anti-governo”, bilionários como os irmãos Koch e família Walton querem transformar a escola em um mercado livre com financiamento público aberto a todos, onde virtualmente qualquer um que queira pode configurar uma escola e ensinar o que quiser. Essa filosofia está resultando em dinheiro através de vouchers indo para escolas que usam a Bíblia como uma fonte no ensino sobre as origens da vida na Terra. O American Legislative Exchange Council desenvolveu uma legislação às vezes chamada de “Bolsas de Estudo de oportunidade” que dão aos pais créditos fiscais que podem ser aplicados ao ensino da escola particular ou paroquial. Esta semana, Nevada se tornou o mais recente estado a adotar esse modelo, tão pronto permitindo que os dólares de tributos possam fluir para qualquer escola que o pai escolha tirando fundos das escolas públicas. A desregulamentação está se estendendo para a profissão docente também. Em Wisconsin, regras recentemente propostas poderão permitir que alguém ensine independentemente do seu nível de educação, contanto que eles tenham “experiência relevante.”

No lado “pró-governo”, as Fundações Gates e Broad têm trabalhado em estreita colaboração com a administração de Obama e os sindicatos de professores para fazer avançar o Common Core [a base nacional comum] e testes alinhados como o novo sistema de prestação de contas que irá religar nossas escolas e transformar nossas salas de aula em “soquetes” uniformes para os sistemas de aprendizagem de base tecnológica. Com a sedução das subvenções do Race to the Top e ameaçando a perda do fundos federais, o Departamento de Educação federal tem forçado a maioria dos estados a adotar o Common Core. Por razões semelhantes, muitos estados já obrigam a inclusão dos resultados dos testes em avaliações dos professores, embora estes sistemas sejam irracionais e injustos. O caso Vergara na Califórnia diabolicamente colocou os interesses dos alunos contra os professores, afirmando que as proteções de estabilidade no emprego dos professores interfere com a capacidade dos alunos de obter uma boa educação.”

Este é o dilema da educação americana que se debate entre estas duas vertentes dos reformadores empresariais. Uma que pretende autonomizar o sistema de educação em relação ao governo e sua completa desregulamentação e outra que pretende o controle tecnológico das escolas de cima para baixo via uma ação associada ao governo americano.

No Brasil tudo indica que a vertente que procura deter o controle da educação seguirá pela segunda versão, ou seja, a linha de controle pela base nacional comum associada a “big data” e “alta tecnologia” articulando soluções on line de avaliação e aprendizagem individualizada. O INEP já desenvolve ações de construção de “big data” e avaliação on line e contará com apoio para ir na direção da disponibilização de recursos tecnológicos ao nível de aprendizagem associados à avaliação on line.

O documento Pátria Educadora da SAE também vai nesta direção, criando as condições de controle sobre os estados e municípios que levarão a algo muito próximo do Race to the top americano – indução para a aceitação das soluções de base tecnológica que serão criadas.

Você pode ler mais sobre a situação dos Estados Unidos (em inglês) aqui em excelente resumo de Anthony Cody.

Sobre Luiz Carlos de Freitas

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - (SP) Brasil.
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