A dualidade das escolas públicas terceirizadas americanas

As escolas públicas terceirizadas americanas querem ser, ao mesmo tempo, públicas e privadas – na dependência das conveniências em jogo. É o que nos informa Ravitch.

“Uma escola terceirizada da Carolina do Norte tem uma regra exigindo que as meninas usem saias, como se fazia nos bons velhos tempos. Os tribunais disseram que, se ela é uma escola pública, não pode impor tal regra discriminatória. A escola insiste, no entanto, que “não é um ator estatal” e portanto, não é pública.”

Leia mais aqui.

Com isso, a escola defende que poderia impor esta regra. Isto é um dilema. O lobby nacional das terceirizadas faz questão de afirmar que elas são escolas públicas e têm direito a financiamento público integral. Elas se auto-denominam “escolas públicas terceirizadas”. Mas na hora de colocar regras arbitrárias elas querem o status de escola privada.

Ou seja, elas querem o melhor dos dois mundos: o mundo público do financiamento; e o mundo privado da não regulação do Estado.

É assim.

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Dois mundos se configuram em Sobral?

Daniel Barboza Nascimento discute os resultados do IDEB e do SPAECE (avaliação estadual) de Sobral (CE) e sugere a conformação de dois mundos entre os estudantes avaliados.

Acesse aqui o texto para discussão: “A dualidade dos resultados do IDEB e do Spaece como expressão do sistema educacional da cidade de Sobral-CE”.

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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: velhos embates, novas disputas 

Seção Temática no periódico Revista Horizontes com prazo de submissão aberto até 31/10/2023.

Proponentes/ Responsáveis:

Luana Ferrarotto – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Bragança Paulista (IFSP – BRA). C. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2883094594167323

Jean Douglas Zeferino Rodrigues – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Campinas (IFSP – CMP). C.Lattes: https://lattes.cnpq.br/5937200399401659

Marta Fernandes Garcia – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Cubatão (IFSP – CBT). C.Lattes: http://lattes.cnpq.br/2630517862259495

Manuela Terrasêca – Universidade do Porto. Porto, Portugal. https://www.fpce.up.pt/ciie/?q=researchers/manuela-terraseca

Allan da Silva Coelho – Universidade São Francisco, Itatiba-SP (USF). C.Lattes: http://lattes.cnpq.br/6148506893978613

Apresentação:

Discutir avaliação educacional exige compreender as contradições e disputas que marcam esse campo de conhecimento, bem como seus entrelaçamentos com políticas públicas, trabalho docente, formação de professores/as, gestores e estudantes. Dada a relevância do tema, os pesquisadores do Grupo Avaliação e Relações Escolares – ARES, do Instituto Federal de São Paulo propõem para esta seção temática o debate sobre a avaliação educacional compreendendo seus três níveis, a saber: a avaliação da aprendizagem em sala de aula, a avaliação externa em larga escala e a avaliação institucional. O objetivo da seção temática é abordar a avaliação educacional como categoria central da organização do trabalho pedagógico e que pode servir a diferentes propósitos, o que a faz ser disputada por antagônicos projetos de sociedade e grupos de interesse.

Serão avaliados textos originais, resultados de pesquisas e inscritos nesta seção, de acordo com as normas do Periódico Horizontes, nos seguintes eixos temáticos:

Avaliação educacional e os desafios da formação humana; Avaliação externa em larga escala e suas relações com diferentes concepções de qualidade da educação e projetos societários; Avaliação externa em larga escala e as repercussões no currículo e na organização do trabalho pedagógico; Avaliação institucional e os desafios da (re)construção de uma escola reflexiva e democrática; Política, gestão e avaliação educacional; Avaliação educacional: formação e trabalho docente; Avaliação educacional e os desafios de uma escola para todos.

Outras informações

–  https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/announcement

– As normas aos autores seguem as já descritas no site da Horizontes e podem ser consultadas na seção Submissões: https://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes/about/submissions

No caso de dúvidas, escreva para o e-mail: periodico.horizontes@usf.edu.br

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Ação interdita militarização de escolas no RS

A Intesindical – Central da Classe Trabalhadora – e o 39º Núcleo do Cpers Sindicato moveram no Rio Grande do Sul uma ação que foi acatada pelo juiz Murilo Magalhães Castro Filho, da 7ª Vara da Fazenda Pública e que impede o Governo do Rio Grande do Sul de dar continuidade ao programa de escolas cívico-militares.

“De acordo com a ação movida, o decreto que criou o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro apresenta ilegalidades. O advogado que entrou com o pedido é o ex-governador do RS, Tarso Genro. Em sua defesa, ele sustenta que a norma que gere o Pecim prevê “emprego de oficiais e praças das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares, para atuarem nas áreas de gestão educacional, didático-pedagógica e administrativa”.”

Veja aqui.

O governo estadual não se manifestou até agora.

Mesmo que venha a ser derrubada, este é um dos caminhos que precisa ser seguido no nível estadual.

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Ravitch: testes são abuso de crianças

Em um recente post intitulado “Bob Shepherd: Já passou da hora de acabar com nossa obsessão com testes padronizados”, Diane Ravitch dá a receita para que acabemos com o “abuso das crianças” que os testes de larga escala representam.

Para ela, só há uma maneira de acabar com este “abuso infantil que rouba das crianças grande parte do tempo que poderiam estar aprendendo” para se dedicarem a “exercícios aleatórios sobre “habilidades” aleatórias de uma pueril lista de “padrões”:

“As provas vão continuar até que os sindicatos nacionais de professores assumam a causa de lhes pôr um fim, até que convoquem uma greve nacional para isso. Isso exigiria coragem de verdade, liderança de verdade. Mas até que os sindicatos de professores façam isso, até que instituam uma ação nacional para acabar com os testes, eles são CÚMPLICES DE ABUSO DE CRIANÇAS. Eu quero dizer isso. Não é exagero. Os testes são um abuso infantil. (…) CHEGA! Foi um fracasso total. Tem sido devastador. É hora de acabar com isso.”

Quando acabaremos com isso por aqui?

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Espírito Santo: diretoras são exoneradas

No estado do Espírito Santo, a gestão de Lorenzo Pazolini, do Partido Republicanos, exonera duas diretoras de escolas básicas. O grupo Professores Associados pela Democracia de Vitória (PAD-Vix) aponta perseguição política nas duas exonerações, bem como na transferência de outro professor, em Maruípe. Elas foram publicadas em Diário Oficial ou por email sem discussões com a comunidade da escola e não foram apresentadas justificativas.

O diretor de Formação da Pad-Vix, Madson Moura Batista, questiona o fato de que as duas diretoras foram eleitas pela comunidade escolar, a qual não foi ouvida.

Leia mais aqui.

Em maio de 2023, Daniel Cara indicava que “a reestruturação da educação em curso no Espírito Santo e Ceará, considerados estados de referência nacional, já tem sido desconstruída nos Estados Unidos, seu país de origem, e na Europa, onde cada vez mais educadores e gestores comprovam seu fracasso no alcance dos resultados esperados.”

Leia mais aqui.

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Escolas charter: a revolução silenciosa. Fato ou falácia?

Pedro Olinto, economista sênior do Banco Mundial, nos “informa”, hoje, sobre uma “revolução silenciosa” em curso na educação americana, baseada na terceirização das escolas públicas. Ele escreve na Folha de São Paulo sobre um relatório do CREDO – Centro de Pesquisa sobre Resultados Educacionais – da Universidade de Stanford chamado “Uma questão de fato. III estudo nacional de escolas charters 2023” e que, segundo ele “sugere uma perspectiva mais favorável às escolas charters do que seus críticos poderiam admitir”, quando comparadas com as escolas públicas regulares.

As escolas charters fazem parte do fracassado pacote de privatização da educação americana que se assemelha à modalidade de parceria público-privada, ou seja, terceirização das escolas públicas. Além disso, o autor considera, na Folha de São Paulo, que os estudantes das terceirizadas mostraram ter “ganhos expressivos” face aos da escola pública regular. Já em 2016 Olinto andava por Goiás ajudando a promover a terceirização das escolas públicas no Brasil.

Leia aqui o artigo da Folha de São Paulo

A Network for Public Education, que luta pela escola pública nos Estados Unidos, divulgou hoje seu relatório contestatório ao do CREDO com o título: “Fato ou falácia? Uma crítica detalhada do Relatório Nacional CREDO 2023”, uma resposta bem feita que rastreia os financiadores e o viés nos dados, métodos e conclusões do relatório do CREDO.

Acesse aqui o relatório do CREDO.

O relatório do CREDO, apesar das falhas metodológicas e vínculos de financiamento que o comprometem teve ampla repercussão na grande mídia.

Como aponta Diane Ravitch, Carol Burris, diretora executiva da Network for Public Education revisou os dados e a metodologia e encontrou vários problemas nele. As diferenças estatísticas entre os dois setores (público e privado) em 2023 “eram iguais às do primeiro estudo de 2013, que foram então descritas como insignificantes.” O relatório do CREDO “desenvolve a pesquisa com cadeias de escolas charters escolhidas a dedo e uma metodologia falha que embeleza os resultados”. Sem contar que o estudo é feito por um Centro de Pesquisa “financiado por bilionários que apoiam a privatização da educação” nos Estados Unidos e que, por isso, apresenta conflito de interesses.

O documento contestatório do NPE sugere “aos formuladores de políticas, ao público em geral e aos pais para desconsiderar os resultados dos estudos do CREDO que pegam resultados minúsculos e os ampliam usando o recurso de recorrer a sua transformação em “dias de aprendizagem” inventados pelo CREDO. Seus estudos estão se tornando nada mais do que propaganda para a indústria de terceirização.”

O relatório NPE analisa o relatório do CREDO nos seguintes aspectos:

A história do CREDO e sua conexão com a Hoover Institution; Críticas acadêmicas da metodologia CREDO; Diferenças triviais exageradas pela construção criada pelo CREDO, ‘dias de aprendizagem’; Viés na metodologia “Virtual Twin”; e Erros graves na identificação de escolas administradas por Charter Management Organizations.

Acesse aqui o post de Diane Ravitch, do NPE.

Baixe aqui o relatório contestatório do NPE.

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No Acre, MPF aciona escolas públicas militarizadas

Ação do Ministério Público Federal (MPF) foi ajuizada no Acre para garantir aos estudantes de escolas públicas militares e cívico-militares o direito a não seguir “padrões estéticos e de comportamentos baseados na cultura militar” (tipo de vestimenta, corte de cabelo, por exemplo) e que se aceito impedirá que a milicada que administra estas escolas puna as crianças por isso. Se aceita também terá validade nacional.

Leia mais aqui.

Como diz Reinaldo Azevedo, o programa de escolas públicas militarizadas, que agora passa a ser administrado pelos estados, já que o governo federal encerrou o programa, é um programa destinado a pagamento de bedéis que tomam conta de estudantes nas escolas.

“Ao todo, o programa emprega 892 militares, com salários que vão de R$ 2.657 — para terceiro-sargento — a R$ 9.152, quando coronel. Os ganhos se somam ao que recebem das respectivas Forças. Fazem um bico nos estabelecimentos de ensino e têm, na média, um salário maior do que o dos professores. A “eficácia” do programa se limita à adoção de uniforme (às vezes), ao perfilamento de estudantes para cantar o Hino Nacional em datas específicas e à cara feia.”

Leia mais aqui.

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Educação americana piorou

A educação americana, que já não andava bem, ficou pior com a pandemia. O Centro Nacional de Estatísticas da Educação (NCES), responsável pela avaliação nacional de larga escala nos Estados Unidos, divulgou os resultados dos testes administrados em 2022, o NAEP que mostram tendências de longo prazo (1971-2023). Os resultados correspondem às pontuações médias dos alunos com a idade de 13 anos e eles não são bons:

“As pontuações médias dos alunos de 13 anos diminuíram 4 pontos em leitura e 9 pontos em matemática em comparação com a avaliação anterior administrada durante o ano letivo de 2019–20. Em comparação com uma década atrás, as pontuações médias caíram 7 pontos em leitura e 14 pontos em matemática.”

Leia análise completa aqui.

No caso de matemática, os resultados recuaram para valores de 1990 e em leitura recuaram para 2004. Para o jornal Washington Post:

“As pontuações dos testes nacionais despencaram para jovens de 13 anos, de acordo com novos dados que mostram a maior queda em matemática em 50 anos e nenhum sinal de recuperação acadêmica após as interrupções da pandemia.

Quando se examinam as tendências separando os níveis de desempenho dos estudantes, verifica-se que o dano foi maior com o grupo de alunos de baixo desempenho – diz o jornal. 

“Em matemática, suas pontuações mostraram quedas de 12 a 14 pontos, enquanto seus colegas de melhor desempenho caíram apenas seis pontos. O padrão de leitura foi semelhante, com os de pior desempenho vendo o dobro do declínio dos de melhor desempenho.”

Leia aqui.

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Live sobre a Reforma Empresarial da Educação

Hoje pela manhã ocorreu a live promovida pela REDHUMANI e o Grupo de Pesquisa PAIDEIA-UNICAMP sobre a Reforma Empresarial da Educação no Brasil: os velhos argumentos da nova direita para mercantilizar a educação.

Participamos eu, o Prof. Cesar Nunes, a Profa. Jaqueline Moll e a Profa. Branca Ponce.

Acesse a live aqui.

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A retórica do “sem desculpas”

“A retórica do “sem desculpas” (ou seja, de que “a pobreza não é desculpa para o fracasso”) é muito apreciada pelos reformadores empresariais da educação porque lhes permite perpetuar (o que muitos reconhecem ser) o mito americano da meritocracia e continuar o movimento de privatização sob o pretexto de “melhorar as escolas”, evitando abordar as desigualdades profundamente arraigadas que existem em nossa sociedade e são perpetuadas pelas estruturas escolares”.

Kathryn Strom

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Escolas terceirizadas a serviço do nacionalismo cristão

Acaba de ser publicado um relatório americano da Rede pela Educação Pública chamado “Uma Virada para a Direita: uma nova geração de escolas terceirizadas difunde a agenda conservadora” mostrando que há uma nova onda destas escolas públicas de gestão privada, terceirizadas para a iniciativa privada, que agora serve a um propósito nunca imaginado por seus primeiros proponentes – a difusão da agenda do nacionalismo cristão.

À medida que a crise econômica e social se amplia, a polarização também aumenta e a escola pública vai sendo objeto da pressão de organizações, agentes econômicos e confessionais. ONGs, Fundações e bilionários procuram usar seu poder econômico para retirar as escolas da esfera do Estado (parceria público privada, doações diretas a escolas, terceirizações e privatização; apoio a bases nacionais comuns curriculares que aprisionam o trabalho da escola) de forma a poder determinar seus conteúdos e métodos. Além do projeto de obter ganhos financeiros com a operação das escolas, cresce também seu uso para difundir um projeto ideológico conservador.

O National Education Police Center comenta o lançamento da Network for Public Education:

“No Texas, uma escola terceirizada usa textos científicos criacionistas; a seção que cobre a origem da vida afirma: “No princípio, Deus criou os céus e a terra”.

Em uma escola terceirizada na Carolina do Norte, os alunos fazem um juramento diário que os obriga, entre outras coisas, a evitar o “excesso de confiança” em “argumentos racionais”.

Em outro – no Arizona – os alunos de uma aula de história da oitava série foram solicitados a listar os aspectos positivos da escravidão.

E no Colorado, uma rede de terceirizadas anunciou a preferência pela contratação de professores não licenciados e permitia que os funcionários portassem armas no trabalho, violando diretamente a política do distrito escolar que a autorizou.

Esses são apenas alguns exemplos citados em um novo relatório sobre um grupo de escolas terceirizadas “clássicas” em expansão que adota o nacionalismo cristão – definido no relatório como uma visão do cristianismo como uma identidade cultural e tribal que começou com a fundação da Nação e está imbuída do ressentimento de que o mundo não para de mudar.”

Baixe o relatório do NPE aqui.

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“Golpe no Ensino Médio”: terceiro evento

Amanhã 15 de junho, ocorre o terceiro evento do ciclo de debates da Faculdade de Educação da Unicamp sobre o ensino médio:

15/06 – Quinta-feira das 19h às 22h30

Trabalho e educação sob nova direção: reforma do ensino médio diante da privatização

Evaldo Piolli (FE/Unicamp)

Carolina Catini (FE/Unicamp)

Para mais informações consulte aqui.

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Senado discute doações para escolas públicas

Privatização avança nas comissões do Senado. Elas estão legitimando a interferência de ONGs, Fundações e bilionários na educação pública. Estes estão sendo autorizados a fazer “doações” a escolas públicas. Esse projeto legaliza a interferência descarada de ONGs e Fundações na educação pública, configuração a influência de agentes ideológicos sobre a escola pública. Isso vai abrir portas também para entidades confessionais e religiosas que queiram interferir com projetos na escola. Ações deste tipo poderão permitir, pelo mesmo critério, que grupos radicais de ultra-direita possam se organizar, com financiamento privado, para desenvolver seu programa em escolas.

A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou – ainda que se encontre em discussão em outras instâncias – a possibilidade de doações de pessoas jurídicas e físicas para escolas públicas.

“A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou nesta terça-feira (13) projeto que autoriza escolas públicas a receber doações, em dinheiro ou não, de pessoas físicas e jurídicas. A proposta, do senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), recebeu parecer favorável do relator, senador Rodrigo Cunha (União-AL). Agora, o texto será analisado pela Comissão de Educação (CE), em decisão terminativa.

O PL 5.193/2019 altera as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, de 1996) para permitir a doação. Styvenson ressalta que não há previsão legal de doações às instituições de ensino. Por isso, a proposta estimula a prática a fim de incentivar o desenvolvimento dos estabelecimentos de ensino infantil, fundamental e médio.”

Leia mais aqui. na Agência Senado

O PL é curto:  “destina-se a alterar a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para prever a possibilidade de os estabelecimentos de ensino de educação básica receberem doações de pessoas físicas e jurídicas.”

“Art. 1º A Seção I do Capítulo II da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com o acréscimo do seguinte art. 28-A: “Art. 28-A. Os estabelecimentos de ensino de educação básica poderão receber doações, inclusive monetárias, de pessoas físicas e jurídicas.”

Vista pelo prisma da ingenuidade, a ideia é muito boa pois canaliza recurso da sociedade para melhorar nossas escolas e não implica em dedução fiscal do doador. No entanto, olhando para a experiência de outros países que estão em fase mais avançada da utilização destas ideias, temos problemas.

Nos Estados Unidos sabemos que esta conexão entre a educação e dinheiro privado leva a uma configuração do tipo de concepção e atuação que a instituição receptora da doação desenvolve. Há muito que a filantropia deixou de ser um ato de benemerência para se tornar em “filantropia de resultados”, ou seja, o dinheiro é “doado” segundo a disposição da instituição receptora em atender aos resultados esperados pelo doador, ou que, segundo uma avaliação prévia do doador estejam caminhando na direção dos  resultados esperados por ele.

Nos Estados Unidos é conhecida a ligação dos irmãos Koch da indústria petroquímica e apoiadores de movimentos anti-Estado com as universidades e como eles interferem na pesquisa e nas concepções veiculadas. Há até um movimento nacional contra as doações dos irmãos Koch para universidades.

Leia aqui.

Igualmente é conhecida a pressão que os bilionários fazem (até mesmo nas eleições de membros dos conselhos que tratam da educação americana) para interferir na educação pública.

Leia aqui.

No Brasil também temos pressões de bilionários.

Leia aqui.

Efetuada a aprovação desta possibilidade pelo Congresso, isso vai fazer com que projetos pedagógicos e finalidades educativas de escolas públicas que recebam doações, sejam adequados aos resultados esperados pelos doadores. Esse movimento não estará escrito em nenhum lugar e acontecerá na etapa das negociações para aprovar a doação em reuniões com o doador ou seu preposto.

Por outro lado, ele também oficializa a interferência de ONGs e Fundações que poderão, então, intermediar ou serem portadoras de doações que atendam a seus objetivos – inclusive objetivos confessionais e religiosos e até mesmo de ultra-direita.

Este Projeto de Lei somado às reformas que o MEC está pensando em realizar, mais a lei de responsabilidade educacional em curso no Congresso, vai configurando a reforma empresarial da educação brasileira.

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A política zumbi do MEC

O MEC está sendo ocupado por políticas zumbis[1] que cresceram na época neoliberal e que agora estão em seu ocaso com as dificuldades do neoliberalismo. No entanto, elas esvaziaram o Estado e deixaram um legado difícil. Cédric Durand chama o Estado resultante das reformas neoliberais de Estado oco ou frágil.[2]

Ele  examina as dificuldades deste Estado para retomar seu papel de indutor de políticas públicas (no caso as industriais) em um quadro de neo-industrialização que coloca em cena um Estado mais ativo e não mínimo e direcionado apenas a apoiar o empresariado. Algumas das dificuldades ali apontadas por ele são um alerta também para as políticas educacionais. O autor aponta que a criação de um Estado frágil se deveu à crença de que seria suficiente induzir competição para produzir qualidade.

É notório que esta visão penetrou também na política educacional dos últimos 40 anos em vários países, inclusive no Brasil, com a reforma empresarial na educação, em ondas sucessivas de pressão sobre as escolas a partir de metas, avaliação censitária de escolas e meritocracia regada a premiações de vários tipos (bônus, prêmios nacionais etc.), ou seja, mais dinheiro focalizado em quem atingia metas cada vez mais exigentes e competitivas.

A criação de um Estado fragilizado pela crença na supremacia da competição, que na opinião de Durand esvaziou o Estado, pode ser notada no nosso Ministério da Educação (especialmente depois do vendaval bolsonarista) e teve repercussões na política educacional.

Analisando a questão do Estado, em sentido mais amplo, Durand cita Brien Deese para resumir uma das dificuldades atuais: “O problema se resume ao profissionalismo do serviço público em nível federal e nos níveis estadual e local – muitos dos quais foram esvaziados.”

A nosso ver, o campo da educação é um bom exemplo, pois padece da invasão de “gestores profissionais”, de empresários ou de “políticos com experiência de gestão” sem conhecimento algum da área educacional, fato notório e que tem raízes muito antigas, agravadas pela lógica da competição. Profissionais com longa experiência nos assuntos especificamente educacionais envolvendo a ciência pedagógica são considerados “muito ideológicos” e portadores de um “pedagogês” improdutivo.

Esta situação é visível no cenário nacional já nos anos 1990, aprofundada com a implantação do IDEB e da avaliação censitária e ganha proporções maiores com a generalização da reforma educacional cearense, com o FUNDEB meritocrático e pode ser observada em vários Estados brasileiros, como por exemplo no Paraná, onde se implantou políticas de competição na rede estadual a ponto de determinar a troca dos diretores que não atingem metas nas suas escolas. Uma destruição sem precedentes. Competição e pressão sempre andam juntas.

Outra consequência destas políticas neoliberais é que centrando em soluções fracassadas que são na realidade “políticas zumbis” que nos últimos 40 anos nem dão certo e nem saem de cena, os problemas foram se tornando cada vez mais graves e agora as ações governamentais têm dificuldades para conseguir equacioná-las e financiá-las – inclusive porque ao longo destes 50 anos de política econômica neoliberal a crise do capital agravou-se. Mas estas políticas continuam perambulando de várias formas.

Quando se entrevistou G. W. Bush, ex-presidente dos Estados Unidos, e se indagou dele a que atribuía o fracasso de sua política educacional baseada em “accountability”, a qual responsabilizava as escolas pelo atingimento de metas medidas por avaliação dos estudantes em testes e que estipulavam consequências como as que estão implantadas no Paraná, chegando até o fechamento e privatização de escolas, ele respondeu: “faltou mais accountability ainda”.

É isso que significa uma “política zumbi”: elas não dão certo e nunca morrem, elas não têm capacidade de autocrítica e perambulam dizendo que a dosagem do remédio foi pequena ou administrada erradamente. Mas há ainda outra estratégia zumbi pelas quais estas políticas continuam ressucitando.

Consiste em argumentar que a política educacional neoliberal teve problemas devido a consequências fortes que se seguiram às avaliações e que, modificadas tais consequências, elas funcionarão melhor. Consiste ainda em ocultar algumas das consequências e finalidades mais duras desta política como seu desdobramento no uso de vouchers para induzir a privatização. Mantém-se todo o quadro de pressão via metas, avaliação censitária e meritocracia e muda-se a intensidade das consequências e ocultam-se seus desdobramentos, de forma a que levantem menos bandeiras vermelhas. As fundações e institutos privados, bem como a academia deles dependente, de forma conscientemente ou não, são mestres nesta prestidigitação “baseada em evidências” escolhidas por eles mesmos.

O caminho do abrandamento das consequências foi tentado por Obama nos Estados Unidos, depois de 2015. Como a lei implantada por Bush não funcionou, Obama deu “perdão” aos Estados, pois não puderam atingir as metas estipuladas para serem atingidas em 14 anos, e implantou uma lei mais branda, induzindo os Estados a aceitá-la em troca do “perdão” e, claro, de dinheiro federal. Incluiu-se no pacote o Common Core, uma espécie de base nacional comum para inglês e matemática. Novo fracasso.

Nos países centrais estas políticas neoliberais estão, juntamente com a própria economia neoliberal[3], em crise. Mas suas políticas continuam vagando mundo afora como zumbis, mais ainda em um país semiperiférico como o Brasil, e são alimentadas pelos seus agentes principais: institutos, ONGs e fundações privadas com ou sem fins lucrativos.

Esta política está no Ministério da Educação, na versão Ceará, agora mais intensamente ainda. Com ela, usaremos um momento em que o Estado pode voltar a ser um articulador de políticas sociais progressistas, preenchendo o vazio neoliberal deixado, e vamos acomodar políticas zumbis, dando fôlego à competição e ao individualismo, com a expectativa de que produzam resultados rápidos. Com isso, ficam intactas as finalidades educativas da política neoliberal presentes nas bases nacionais curriculares, bem como sua lógica de indução, enquanto as reformulações de fundo na educação vão sendo postergadas.

E a escolha desta política, é bom que se diga, foi opção de governo e não produto de pressão derivada de visões educacionais diferentes naturalmente existentes em um governo de frente ampla.


[1] Zumbi ou zombie é uma criatura cujo estereótipo se define, nos livros e na cultura popular, como um cadáver reanimado usualmente de hábitos noturnos, que vive a perambular e a agir de forma estranha e instintiva; um morto-vivo; um ser privado de vontade própria, sem personalidade. Os zumbis são mais comumente encontrados em obras do gênero de terror e fantasia (Wikipédia).

[2] Durand, C. (2023) Estados ocos  em face do “neoindustrialismo”. Disponível em https://eleuterioprado.blog/2023/06/04/estados-frageis-em-face-de-um-neoindustrialismo/#more-4901 Acessado em 5/6/23.

[3] Gerstle, G. (2022) The rise and fall of the neoliberal order: America and the world in the free market era. New York: Oxford University Press.

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Paraná: metas e meritocracia demitem diretores

A reforma empresarial da educação já está em fase mais avançada no Paraná. É assim que funciona: um governo implanta o gerencialismo, outro vai mais longe e coloca metas, outro começa a cobrar metas mais explicitamente, outro vai endurecendo e começando a trocar diretores que não atingem metas. O passo seguinte é transferir escolas que não atingem metas para a iniciativa privada e por aí vai.

No Paraná Ratinho Jr já começa a trocar diretores em função de metas. E note, não adianta atingir a meta em um ano e no outro não. Sempre tem que atingir as metas. Este é o princípio meritocrático: você tem que ser sempre o primeiro, ou estar entre os primeiros. Qualquer outra posição é de perdedor com direito a consequências. Não há segundo lugar ou aproximação sucessiva à meta. É o que o relato do diretor afastado mostra:

“Eu, a Raquel e nossa equipe pedagógica fizemos que [a escola] Bento saísse de 3,7 para 5,9 no Ideb. Na Área Metropolitana Norte apenas um colégio tem índice igual. (…) No Paraná, com mais de 2,2 mil colégios, nós ocupamos a 50ª colocação. Não importa tanto o ranking, mas sinalizava que nosso trabalho estava sendo feito e estava sendo bem feito”, afirma Wilson.”

Mas, não é assim que funciona. Em nota, a APP Sindicato denuncia a ação desastrosa da Secretaria da Educação do Paraná:

“A Seed usa supostas insuficiência no cumprimento de metas como justificativa para destituir diretores(as) de escola em todo o Paraná. Mas a sanha meritocrática não resiste sequer à avaliação do índice mais celebrado pelo governo, o Ideb.”

Segundo a APP Sindicato:

“Índices insatisfatórios de frequência e uso de plataformas digitais são os motivos apresentados pelo Núcleo Regional de Educação para destituir Wilson e Raquel. O educador contesta a avaliação. “Alegam que em 2022 ficamos abaixo de 85% de frequência, o que não é verdade, como foi provado no processo. Nossa média anual em 2022 foi de 87%”, afirma.

Wilson relata que em dias de chuva é normal que mais alunos faltem às aulas. “Teve uma semana ou outra durante o ano em que o índice ficou abaixo, 84 ou 83%. Alertei em reuniões com o Núcleo que quando chove na nossa reunião há índice maior de faltas. Mas eles não levaram isso em consideração”, explica.

Outro ponto arrolado pelo NRE é o descumprimento de metas de acesso às plataformas digitais. “O Bento tem apenas um laboratório de informática. Tínhamos um cronograma de atendimento para os professores e alunos, que utilizavam todas as plataformas e realizavam suas atividades”, conta Wilson.”

Leia mais aqui.

Mas a reforma empresarial da educação não reconhece limitadores externos à escola para explicar fracassos em metas. A meritocracia não pode funcionar dessa forma. Tem que partir do fato de que tais limitadores devem ser compensados por ações internas da escola. Não se aceitam “desculpas”.

Note-se que há até meta referente ao acesso dos alunos a plataformas digitais: as “big techs” devem estar muito satisfeitas. Mercado garantido.

O clima que vai sendo criado nas escolas sob estas políticas é bem resumido no depoimento abaixo:

“É constante a ameaça de que se a presença não subir seremos destituídos e citam o exemplo de quem foi deposto recentemente” diz uma diretora.  Segundo essa diretora, há convocações frequentes e em cima da hora para reuniões nos Núcleos Regionais, quando são cobrados duramente a elevar índices e a fazer cursos de desenvolvimento em liderança. “Além disso, embaixadores de plataformas enviam forms, planilhas e prints toda hora. Não temos paz. É difícil passar tranquilidade para a equipe se a todo momento estamos com a corda no pescoço”, diz.”

Encontra-se em tramitação no Congresso uma Lei de Responsabilidade Educacional que deverá oficializar isso em escala nacional conforme já comentamos aqui. Com o MEC apostando em “metas, meritocracia e mais dinheiro”, isto vai ganhar força.

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Golpe no Ensino Médio: segundo evento

Amanhã 31 de maio, ocorre o segundo evento do ciclo de debates da Faculdade de Educação da Unicamp sobre o ensino médio:

31/05 – Quarta-feira

14h30 às 17h30
– Currículo e flexibilização: os itinerários formativos
– O sequestro da Sociologia nos livros Didáticos de Projeto de Vida

Para mais informações consulte aqui.

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Educação do campo pela revogação do Novo Ensino Médio

Educação do Campo, através da TV FONEC, posiciona-se pela revogação do Novo Ensino Médio.

Mediação:

✅ CLARICE SANTOS – UnB/FONEC

Convidados (as):

✅ HELENO ARAÚJO  – Presidente da CNTE, Coordenação Executiva do FNPE e Membro do FNE. 

✅ MÔNICA RIBEIRO  – Professora da UFPR, Coordenadora do Observatório do Ensino Médio e da Rede EMPESQUISA.

Acesse o evento aqui.

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Livrem-se dos testes padronizados: não funcionam!

Usar teste padronizado com a finalidade de informar aos professores o que está acontecendo em sua própria sala de aula é, na verdade, uma inutilidade. A função dele, no melhor dos casos, seria, com todas as cautelas e juntamente com outros indicadores, servir para uma crítica das políticas públicas dos governos. Para tal não precisam ser censitários, podem ser amostrais – e mais baratos… Nenhum estatístico sério irá defender que seu teste pode saber mais do que os próprios professores sobre seus estudantes. Porque são feitos, então?

Primeiro, porque a reforma empresarial quer “controlar” e colocar “pressão” sobre as escolas para que sejam “eficientes”. Esta política acha que o ser humano só é eficiente se for pressionado. Não passa pela cabeça deles que existam condições restritivas oriundas das políticas educacionais ou da própria vida dos estudantes que estejam sendo impeditivas. E se acham que existem, também acham que as escolas podem e devem superar tais obstáculos. Para tal, vivem procurando alguma escola que atenda crianças pobres para transformá-la em “evidência empírica” de boa educação.

Christopher Tienken (professor associado da Seton Hall University) e Julie Larrea Borst (diretora executiva da Save Our Schools New Jersey e presidente do conselho da New Jersey Community Schools Coalition fazem um apelo para que os Estados Unidos, o país que mais usa testes padronizados do grupo de países do G20, livrem-se dos testes padronizados em educação, pois eles “simplesmente não funcionam”.

No texto deles, é possível se ler uma segunda razão para a mania dos testes. Eles apontam que com esta mania “um verdadeiro complexo industrial de testes foi instalado em todo o país, que desvia recursos educacionais de escolas públicas para grandes corporações.”

Por isso que, em alguns meios acadêmicos norte-americanos, o programa educacional do presidente G. W. Bush chamado “Nenhuma criança deixada para trás” era chamado, na verdade, de “Nenhum consultor deixado para trás”.

Os autores apontam que estudos nos últimos 35 anos nos informam que “os resultados de testes padronizados são altamente subjetivos e não totalmente indicativos do que está acontecendo na sala de aula.” Há evidências empíricas, ressaltam, que apontam que “os testes padronizados são medidas que reproduzem resultados que podem ser previstos no âmbito das escolas “usando dados demográficos familiares e comunitários encontrados no Censo dos EUA.” Em resumo, afirmam que:

“Simplificando, os resultados de estudo após estudo ao longo dos últimos 70 anos sugerem que os testes estão medindo mais as experiências de uma criança obtidas fora da escola do que o que está acontecendo dentro da escola. Os resultados não fornecem informações válidas sobre a qualidade do ensino em uma escola, como um aluno aprende, o que um aluno aprendeu, nem o potencial de aprendizagem de um aluno.”

Leia todo o texto aqui.

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FNPE: educação fora do arcabouço fiscal

Uma das frentes de luta essenciais para deter o neoliberalismo e suas alianças políticas com a extrema-direita é a recomposição do orçamento do Estado para poder aliviar as condições de vida da população. Isso inclui melhores condições para realizar a educação da população. Como propõe Wallerstein:

Para que prevaleça, (…) a esquerda precisará combinar uma série de políticas. Alianças de curto prazo, para minimizar o mal que os orçamentos restritos fazem aos mais pobres. Oposição duríssima ao controle do poder do Estado pelos movimentos anti-establishment de direita. Constante organização política pela base.

NOTA PÚBLICA DO FNPE SOBRE ARCABOUÇO FISCAL
Pela preservação das despesas com investimentos públicos em educação pública

Baixe o texto aqui.

O Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE) é um fórum da sociedade civil organizada, que reúne 45 entidades representativas do campo educacional e, desde 2017, com capilaridade e legitimidade, foi polo de resistência contra o golpe e a prisão do presidente Lula. Também se mobilizou contra a Emenda Constitucional nº 95, de 2016 (que instituiu o teto de gastos) e todos os ataques à educação pública.

O FNPE foi linha de frente em defesa da educação e nos mantivemos fortes nas lutas pela superação do fascismo e do autoritarismo, sempre com vistas à retomada de um projeto democrático para a educação e o país. Desde 2016, por meio de amplas e democráticas conferências municipais, estaduais, distrital e intermunicipais, além de duas Conferências Nacionais, defendemos em todo o país, entre outras proposições aprovadas em Conferências, a revogação da Emenda Constitucional nº 95/2016 e, portanto, o fim do congelamento de recursos primários associados ao Poder Executivo e a retomada dos investimentos na educação e em áreas sociais.

O FNPE, neste contexto, vem se manifestar sobre o PLP 93/2023, conhecido como “novo arcabouço fiscal”, cujo texto foi apresentado pelo Governo no mês de abril e o respectivo substitutivo foi apresentado na segunda-feira, 15 de maio, pelo Relator Dep. Claudio Cajado (PP-BA). A matéria teve regime de urgência aprovado pela Plenário da Câmara dos Deputados (17/05), com apreciação já na próxima semana.

O texto apresentado merece ser bastante modificado para equilibrar a garantia da estabilidade macroeconômica do País e a criação de condições adequadas ao crescimento socioeconômico com a necessária ampliação e garantia de direitos, sobretudo para a população que mais precisa. Ou seja, o substitutivo precisa ser necessariamente emendado ou reformulado, o que exige ampla mobilização sobre o Parlamento e as Lideranças dos partidos políticos.

A primeira demarcação que não se pode transigir é em relação à preservação das despesas com o financiamento da educação pública. Desta forma, defendemos que não devem ser incluídas na base de cálculo e nos limites estabelecidos pelo arcabouço a aplicação dos mínimos constitucionais da União em manutenção e desenvolvimento do ensino prevista no art. 212 da Constituição.

Ademais, importante destacar que, atualmente, a complementação federal do Fundeb está excluída do Teto de Gastos. Logo, a nova “âncora fiscal” precisa, necessariamente, excetuar os aportes do Fundeb de forma a não introduzir, de pronto, um importante retrocesso na gestão da política educacional. A manutenção do texto atual do substitutivo é, ao nosso ver, flagrantemente inconstitucional.

A proposta expressa no PLP nº 93/2023 está longe de contemplar os anseios da sociedade brasileira, sobretudo porque depende de sucessivos e audaciosos incrementos nas receitas da União (até 2,5% ao ano frente ao recente histórico abaixo de 2%) para dispor de no máximo 70% dos recursos arrecadados no anterior em gastos de custeio e em investimentos no ano em curso. Os gastos podem ser reduzidos a 50%, caso o crescimento da receita varie em 0,6%.

Apesar de dura e de estar ancorada em variáveis externas, sobretudo no comportamento da receita tributária, que por sua vez é sensível ao PIB, a proposta de novo arcabouço do Executivo é mais realista e excetuou despesas essenciais, além das transferências constitucionais. Isso é o mínimo que se espera para que o novo regime fiscal não retome as incoerências da EC nº 95.

Reforçamos que ao incluir no teto de gastos do novo arcabouço fiscal os mínimos constitucionais da educação e da saúde (exceto o salário educação), além da complementação federal ao FUNDEB, que até 2026 atingirá o percentual de 23% do Fundo são medidas incoerentes e desproporcionais. Desta forma, comprimirão as demais despesas sem pisos constitucionais, fazendo retornar o cenário de carestia imposto pela EC nº 95 às políticas sociais no Brasil, entre elas, a execução do Plano Nacional de Educação.

A Carta de Natal, aprovada por milhares de delegados, disseminada em todo país, inclusive entre os parlamentares, é afirmativa na defesa dos recursos públicos para a educação pública e nos manteremos coerentes e firmes nesta construção.

Ratificamos que o programa vitorioso nas urnas, enunciado pelo então candidato e hoje presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, enfatiza as despesas com educação não como gastos, mas sim como investimentos, dado o caráter estratégico da educação para a construção de uma nação democrática e soberana.

Em uníssono, as entidades do FNPE defenderão, em todo país e junto ao Congresso Nacional, que não deve haver qualquer constrangimento ao financiamento da educação pública em nosso país. Desta forma, é central que as despesas com investimentos públicos em educação pública não devem ser penalizadas no diploma legal a ser aprovado.

Requeremos ao nobre relator do PLP nº 93/2023, e ao conjunto dos/as parlamentares, que mantenham as exceções de despesas no arcabouço fiscal, tal como consta no projeto original do Poder executivo, uma vez que representam salvaguardas mínimas a setores vulneráveis da sociedade.

Assim, o FNPE conclama forte mobilização de todas as entidades, fóruns e militantes da área da educação no sentido de dialogar com todo o parlamento e, especialmente, com o Relator da matéria, de forma a não cristalizar, em Lei Complementar, dispositivos prejudiciais à garantia do direito à educação, com efeitos similares perversos da Emenda Constitucional nº 95/2016.

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Lei de responsabilidade educacional no Senado

O sonho neoliberal de uma “lei de responsabilidade educacional” volta a ser discutido no Senado. É o projeto 88/2023 de Flávio Arns. Ele retoma a fracassada política de pressão sobre gestores, diretores e professores, como se a qualidade da educação fosse um caso de polícia.

Embutida na racional da punição de gestores que não cumprem as leis, encontra-se também punições para o magistério e para Diretores de Escola. O destino da lei, como mostra a experiência norte-americana, será aumentar o gerencialismo e a privatização das escolas – além da evasão do magistério. O Brasil insiste em adotar as piores políticas para suas escolas.

Se considerarmos a atual política em curso no MEC que adota o modelo do Ceará baseado em metas e meritocracia; se considerarmos a implantação do FUNDEB meritocrático que aloca mais verba na dependência de metas, e agora a lei de responsabilidade fiscal, temos uma combinação explosiva para os próximos anos.

Daniel Koretz[1] assim resume a história destas políticas usadas por décadas nos Estados Unidos:

“Tivemos inúmeras reformas nas últimas duas décadas, mas no centro delas estão os esforços para pressionar os educadores a aumentar as notas nos testes. A ideia é enganosamente simples. Diz: os testes medem coisas importantes que queremos que os alunos aprendam; responsabilize os educadores por aumentar a pontuação e eles ensinarão mais as crianças. E, concentrando a responsabilização em grupos com baixa pontuação – na maioria das vezes, estabelecendo metas uniformes por meio de leis estaduais ou federais, como o “Nenhuma criança deixada para trás” ou “Todo estudante é bem-sucedido”-, fecharemos as lacunas de desempenho. Infelizmente, esse conceito acabou sendo mais simplista do que simples, e não funcionou” (Koretz, 2019).

Segundo a Agência Senado:

“A Comissão de Educação (CE) realiza na quinta-feira (25), às 14h, a primeira audiência pública destinada a instruir o projeto do senador Flávio Arns (PSB-PR) da Lei de Responsabilidade Educacional (PL 88/2023). A proposição estabelece medições da qualidade e da oferta da educação básica e impõe o compromisso dos gestores públicos com o ensino, submetendo-os a punições civis e criminais em caso de má gestão.

Foram convidados para o debate a procuradora do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo, Elida Graziane Pinto; o vice-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Alessio Costa Lima; o presidente do Centro de Estudos Educação & Sociedade (Cedes), Sérgio Stoco; e representantes do Ministério da Educação, da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e da Secretaria de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto do Tribunal de Contas da União (TCU).

A audiência será a primeira do ciclo de dois debates sobre a Lei de Responsabilidade Educacional, realizado a requerimento de Arns e da senadora Teresa Leitão (PT-PE). O PL 88/2023 é relatado pelo senador Confúcio Moura (MDB-RO).”

Felizmente teremos Sérgio Stoco do CEDES nesta primeira audiência.

O projeto de lei inclui eventuais punições em toda a escala hierárquica desde os gestores até  professor, passando pelo Diretor de escola. Com isso, a educação brasileira dá mais um passo na direção da fracassada política norte-americana implantada por Bush, abrindo caminho para pressões de todo tipo sobre o aparato escolar motivadas por não atingimento de metas.

Leia o projeto 88/2023 aqui.

Diz o texto do projeto:

“Art. 4º Inconsistências na oferta da educação básica pública e na promoção de seu padrão de qualidade, nos termos do art. 2º desta Lei, ensejarão a responsabilização educacional do gestor, por meio de ação civil pública de responsabilidade educacional, nos termos da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, além de configurarem crime de responsabilidade dos governadores e prefeitos, comprovada a negligência ou má gestão.

Parágrafo único. Quando ficar comprovada a insuficiência de receitas do ente federado para cumprir o disposto no art. 2º desta Lei, a União, no exercício da função redistributiva e supletiva prevista no § 1º do art. 211 da Constituição Federal, prestará a assistência financeira necessária para assegurar o padrão de qualidade na educação básica pública.”

Neste artigo, eventualmente pune-se governadores e prefeitos.

“Art. 5º Os profissionais das escolas públicas cujos indicadores apontarem melhoria ou manutenção de padrão na qualidade do ensino receberão abono salarial anual, nos termos do regulamento e dos respectivos planos de carreira.”

Neste, induz os estados a implantar planos de bonificação para professores – uma politica falida onde foi aplicada, inclusive no Estado de São Paulo que há décadas convive com ela sem resultados.

Leia aqui a entrevista de um ex-secretário da educação paulista.

“Art. 6º A direção das escolas públicas que não cumprirem as respectivas metas deverá elaborar relatório de justificação do resultado obtido e plano de melhoria do ensino, a ser aprovado pelo respetivo conselho escolar e submetido à apreciação do órgão gestor da respectiva rede de ensino, o qual deverá:

I – apontar estratégias para corrigir eventuais falhas na observação das disposições do art. 2º em relação ao estabelecimento de ensino; II – apurar a razoabilidade e a viabilidade das metas definidas para a escola; III – analisar a necessidade de realocação de profissionais no estabelecimento de ensino, respeitadas as normas de cada sistema de ensino; IV – analisar a necessidade de instaurar inquérito administrativo para apurar a eventualidade de desídia profissional; V – enviar à escola documento de avaliação de seu relatório e plano de melhoria do ensino, com informações sobre as providências a serem tomadas.”

Por este induz-se a “realocação de profissionais no estabelecimento de ensino” e até a instauração de inquérito administrativo contra profissionais da educação.

Todas as ações seguem o padrão de pressionar as escolas como se a questão da melhoria da educação fosse caso de polícia.

Bush, quando presidente nos Estados Unidos, implantou ações até mais duras que esta e o resultado foi nulo. Foram duas décadas ou mais de ações deste tipo que resultaram em aumento da privatização das escolas. O que se conseguirá por aqui com estas medidas não será diferente:

– mais segregação promovida pela corrida às metas, tornando alunos de baixo rendimento ou com necessidades especiais invisíveis ao sistema educativo para que não façam parte das avaliações e com isso não derrubem a média da escola; massacre de simulados preparatórios para os estudantes se saírem bem nos testes padronizados das avaliações estaduais e nacionais para não perder o acesso a recursos financeiros;

– redução do tempo dedicado a ensinar e aumento do tempo dedicado a avaliar; focalização no estudo das disciplinas de português e matemática que são objeto de avaliações e abandono das que não são exigidas nos exames;

– quando não o uso de fraudes para elevar artificialmente os índices, especialmente para atender a pressões de metas que liberam recursos.

Mas além disso está a conformação ao espírito da concorrência e da competição desde os primeiros anos da educação básica acostumando os estudantes ao modo de vida neoliberal.

Finalmente, é bom que se pense no que estamos fazendo com o magistério. Estamos colocando os profissionais da escola em situações que cada vez mais desestimularão a entrada na profissão e o exercício da profissão: facadas de alunos inconformados, processos policiais se as metas não são atingidas, sobrecarga de trabalho, baixa remuneração, entre outras. Enquanto isso, a miséria cresce do lado de fora da escola.

Quem vai querer continuar ou entrar nesta profissão?


[1] Koretz, D. (2019) ‘It Just Isn’t Working’: PISA Test Scores Cast Doubt on U.S. Education Efforts.Disponível em https://www.nytimes.com/2019/12/03/us/us-students-international-test-scores.html?action=click&module=Top%20Stories&pgtype=Homepage . Ver também seu livro: Koretz, D. (2017) The testing charade: pretending to make schools better. Chicago: The University of Chicago Press.

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Conjunturas e impactos na formação de educadores

Entre os dias 10 e 12 de maio ocorreu em Brasília o XXI Encontro Nacional da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE. Tive o prazer de fazer a palestra de abertura deste evento. Abaixo divulgo o texto que foi lido no evento.

Baixe o texto da abertura da ANFOPE aqui.

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Por que as escolas estão sendo atacadas?

Marcos Francisco Martins reflete sobre o tema. Para ele, a escola não é uma instituição isolada do contexto. O que nela ocorre está dialeticamente articulado à dinâmica da totalidade da vida social.

Leia íntegra aqui.

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Golpe no Ensino Médio – O que nos dizem as pesquisas

Amanhã, dia 04 de maio, ocorrerá o primeiro evento do Ciclo de Debates sobre o Novo Ensino Médio promovido pela Coordenação de Pesquisa e Divulgação da Faculdade de Educação da UNICAMP.

04/05 – Quinta-feira 14h30 às 17h30

– Do negacionismo aos tecnocratas – Nora Krawczyk (FE/Unicamp)
– As juventudes na reforma – Dirce Zan (FE/Unicamp)

O ciclo que se inicia amanhã vai até 15/06/2023.

Local presencial: Salão Nobre

Acesse a transmissão aqui

Convidados para o Ciclo:

  • Profa. Dra. Nora Krawczyk (FE/Unicamp)
  • Profa. Dra. Dirce Zan (FE/Unicamp)
  • Prof. Dr. Lucas Barbosa Pelissari (FE/Unicamp)
  • Prof. Dr. Sálvio Cavalcanti (IFCH/Unicamp)
  • Prof. Dr. Evaldo Piolli (FE/Unicamp)
  • Profa. Dra. Carolina Catini (FE/Unicamp)

Período de inscrição:

20/04/2023 – 00:00 a 13/06/2023 – 19:00

Maiores informações sobre o evento podem ser obtidas aqui.

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As violências que não queremos ver

Segue nota pública produzida pelo Curso de Pedagogia da UFSC sobre a violência nas escolas e alertando sobre os limites e os equívocos quanto às estratégias de enfrentamento que estão sendo tomadas pelos políticos locais.

AS VIOLÊNCIAS QUE NÃO QUEREMOS VER

Nota do curso de Pedagogia

Entre os fatos vividos nas últimas semanas e os muitos boatos propagados nos últimos dias em relação aos ataques às instituições educacionais parece ficar a certeza de estarmos vivendo um período delicado e preocupante. Sem dúvida, precisamos seguir atentos e nos cuidando, cientes que não estamos diante de um fato isolado. Mas seguirmos nos cuidando implica, igualmente, em podermos dialogar com a comunidade escolar sobre o que está acontecendo, buscando reduzir a propagação de possíveis movimentos de pânico e, ao mesmo tempo, compreender as soluções que realmente podem trazer segurança para as crianças, os jovens, os professores e demais profissionais da educação e as famílias.Queremos uma escola segura para todos. Mas como avançarmos para essa construção?

Nessa semana começamos a acompanhar a entrada e a presença de policiais armados nas escolas estaduais e municipais de Florianópolis. Policiais com armas na cintura, acompanhando o dia letivo. Sabemos que esse tipo de ação corrobora para reforçar a opinião pública de que: a) “realmente estamos todos em risco” e b) essa seria a melhor solução para esse “risco”. A Prefeitura de Florianópolis, por exemplo, divulgou em seu site um programa denominado “escola segura”, que declara ter como objetivo “realizar atividades voltadas à promoção da segurança nas unidades educativas de Educação
Infantil, de Ensino Fundamental e nos Núcleos da Educação de Jovens, Adultos e Idosos”.

Dentre os 12 pontos anunciados para “reforçar a segurança nas escolas” destacamos: “treinamento para casos de violências em todas as escolas”; “botão de emergência nas escolas com alarme sonoro”; “instalação de câmeras”; “projeto de lei para criação de monitor e inspetor escolar”. A ideia de instalar um “botão de emergência com alarme sonoro” nos provoca a pensar os “alarmes” que soam há muito tempo em nossas escolas e em nossa sociedade e que não temos conseguido ouvir.

Vivemos, nos últimos 4 anos, uma intensa e sistemática naturalização de violências (físicas, verbais e econômicas), de intolerância a diferentes grupos (povos indígenas, comunidades quilombolas, comunidade LGBT) e de apologias explícitas às armas. Foram muitos os casos protagonizados ou apoiados pelo ex-presidente da República (Jair Bolsonaro) e seus apoiadores. Muitos. A começar pela campanha de 2017, que teve como um de seus símbolos o gesto de uma arma com as mãos. Quantas crianças reproduziram esse gesto? Quem se importou com isso? Era já um alarme que não ouvimos?

Tivemos, também, legislações que facilitaram a aquisição de armas de fogo pela população, em meio a uma política de contínuo discurso de ódio e busca de eliminação do outro que pensava diferente de mim. Importante destacar que essas ações foram sendo fortalecidas por meio de uma difusão massiva e sistemática de imagens nas redes sociais (com fotos, vídeos e memes), o que potencializou enormemente o papel educativo dessas ideias, desses discursos, desse modo de ver e agir no mundo.

A naturalização da violência que vivemos nesses últimos anos teve e segue tendo um impacto concreto na formação das pessoas, criando referências de modos de “resolver” conflitos, legitimando determinadas ações e comportamentos. Ressalta-se, além disso, o crescimento da precarização das condições de vida da população (em relação à alimentação, moradia, saúde, emprego etc.). Esses fatos compõem parte do “alarme sonoro” que está soando há muito tempo em nossa sociedade. Se queremos ouvir esse alarme, precisamos seriamente discutir essas questões como um problema relevante a ser analisado, debatido e combatido para que as escolas sejam efetivamente seguras para nossas crianças, nossos professores e profissionais da educação, sujeitos que estão diariamente construindo a educação pública em nosso país. É preciso dialogar com as escolas e a comunidade escolar.

Reconhecemos a importância da ação policial no monitoramento de indivíduos ou grupos que se organizam a partir de apologias à violência, investigando esses fatos e atuando de forma preventiva. Mas dentro das escolas, a presença de policiais armados, convivendo com as crianças cotidianamente, parece-nos inadmissível como “solução” para o problema da violência que atravessamos.


Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis, 14 de Abril de 2023

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Vilela e Cara: Novo Ensino Médio não tem remendo

Elenira Vilela e Daniel Cara examinam o Novo Ensino Médio:

“O tema mais importante da educação brasileira nesse início de Governo Lula-Alckmin é o Novo Ensino Médio (NEM). Chegou a ser tema de entrevista do Presidente à PósTV 247, com ele afirmando o compromisso do seu governo em que estudantes e profissionais da educação sejam ouvidos de verdade na reformulação das diretrizes.”

Leia mais aqui.

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FE UNICAMP: mesa redonda sobre Alfabetização

O tema da alfabetização continua no foco das políticas públicas. A Faculdade de Educação da UNICAMP realizará uma mesa redonda dia 12/04 incluindo o PNAIC e o PAIC.

Transmissão também pelo youtube aqui.

Mais informações aqui.

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Danilo Paris: Os elos da tragédia escolar

“Há algumas experiências internacionais que podem auxiliar na reflexão sobre o caso brasileiro. Pesquisas com informações coletadas e sistematizadas nas escolas dos EUA lançam luz sobre a farsa do argumento que defende a militarização – ou a presença ostensiva de militares na escola – como uma resposta para uma maior segurança da comunidade escolar. Um relatório feito pelo Institute for Policy Studies, intitulado “Reimaginando a segurança escolar”, detalha os efeitos da presença da polícia nas escolas americanas. Segundo o relatório:

“Após o tiroteio em 2018 em Parkland, Flórida, muitos distritos escolares se apressaram em contratar mais policiais armados para suas escolas. Mas uma grande quantidade de pesquisas mostra que a presença desses policiais armados, que podem prender e usar a força contra estudantes, teve um impacto devastador nas populações de estudantes vulneráveis ​​- especialmente estudantes de baixa renda, estudantes negros e pardos, estudantes LGBTQ + e alunos com necessidades especiais.”

Leia mais aqui.

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Ratier: reformando o irreformável?

“Se confirmada, a suspensão da implantação do Novo Ensino Médio (NEM) por 90 dias vai estancar o avanço do modelo em estados em que a reforma pouco avançou – vamos lembrar que essa etapa de ensino é responsabilidade majoritária dos estados. Mas o “fica como está” também tem um lado perverso nos locais em que as coisas já mudaram bastante.

É o caso de São Paulo, onde a carga diversificada de disciplinas como “projeto de vida”, “comunicação e marketing” e “empreendedorismo” tomou o lugar das disciplinas tradicionais, aligeirando a formação e, no fim das contas, prejudicando os estudantes. Porque, ao menos em 2024, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai continuar cobrando o de sempre.”

Leia mais aqui.

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A estratégia empresarial na reforma do ensino médio

Carolina Catini analisa a apropriação privada dos mecanismos de gestão e controle da educação estatal por organizações empresariais.

Acesse aqui.

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