Otavio Frias Filho, Diretor Editorial da Folha de São Paulo, comenta hoje o PNE aprovado pelo Congresso. Como era de se esperar, em primeiro lugar, ele enfatiza a crise educacional como pano de fundo:
“Primeiro obstáculo [ao PNE], o sistema de ensino no Brasil é notoriamente ineficiente, da escola pública à elite do ensino privado: reprova, exclui, atrasa os estudantes, sai-se mal nos exames comparativos. Segundo, não há instituições capazes de melhorar o essencial – a qualidade das aulas e da formação – nem regras e incentivos para o progresso e o talento.”
Trata-se de estratégia conhecida de criar o caos ou fazer com que se perceba a realidade como um caos – mesmo que não seja assim – para depois entrar com propostas de reformas milagrosas.
Otávio Frias oculta que a própria OCDE considera que o sistema educacional brasileiro é um dos que mais avançou no mundo nos últimos anos. Vamos avançando especialmente nos anos iniciais da educação fundamental, também segundo a Prova Brasil. Nos outros níveis temos problemas, mas entre outras coisas, por causa de uma das graves formas de organização curricular que faz com que o aluno tenha que lidar simultaneamente com 11 professores horistas nas salas de aula – um para cada disciplina. Sem falar do número de alunos em sala de aula. Curiosamente, nem Otávio e nem o PNE quiseram mexer nisso: fixar o número de alunos por sala e acabar com o professor horista.
Ao contrário, a solução milagrosa da Folha de São Paulo é:
“Sem dúvida é preciso avançar num piso de salários para professores de modo a atrair vocações mais qualificadas e, tão importante, promove-las na carreira. Uma reforma (a salarial) não pode vir sem a outra (a da promoção por mérito, incluindo bônus variável por desempenho), ou as verbas adicionais serão um desperdício.”
O mesmo de sempre: bônus. E bônus variável por desempenho é introdução de cálculo de valor agregado, um mecanismo instável e impreciso de ranquear professores. Como é dono do jornal, Otávio pode dizer o que lhe vem à cabeça sem ter que discutir o status científico de suas afirmações. Faz política pública de baixa qualidade, de costas para as evidências e a favor das conveniências, o que inclui a sua fé na iniciativa privada, donde vem a ideia de pagar os professores por bônus.
Seu próprio estado, o de São Paulo, utiliza a solução há mais de uma década sem que tenha nenhum sucesso (veja aqui, aqui e aqui também). Otávio omite isso, certamente em respeito ao governador do Estado de São Paulo e seu partido.
Experiências internacionais largamente divulgadas dão conta do fracasso da estratégia de pagamento de bônus variável para uma profissão complexa como a dos professores (veja aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
Veja opinião de Maria Alice Setúbal sobre bônus.
Excelente professor! Parabéns pelo vigor com que você mantém este Blog!